Grandes homens de Deus.



A. W. TOZER (1897 - 1963)


“Devemos nos preocupar com o 'arrependimento' que é apenas uma mudança de localização. Ao passo que outrora pecávamos na terra longínqua entre os porqueiros, agora somos companheiros de pessoas religiosas, consideravelmente mais limpas e muito mais respeitáveis na aparência, por certo, mas não estamos mais próximos da verdadeira pureza de coração do que antes. O pecado pode mudar de aparência sem mudar de natureza. Um cristianismo sem poder não faz nenhuma diferença fundamental na vida de uma pessoa. A água pode mudar de líquido para vapor, de vapor para neve e de novo para líquido, e continua fundamentalmente sendo a mesma coisa. Assim, o cristianismo sem poder faz no homem diversas mudanças superficiais, porém, deixando-o exatamente igual ao que era antes. É justamente aí que está a armadilha.
As mudanças são apenas de forma, não de natureza. Por trás do homem não religioso e do homem que recebeu o evangelho sem poder estão os mesmos motivos; Um ego não abençoado jaz no fundo de ambas as vidas, com a diferença que o ultimo aprendeu a disfarçar melhor o defeito. Os seus pecados são mais refinados e menos ofensivos do que antes, mas não é melhor aos Olhos de Deus. Na verdade pode ser pior, pois Deus abomina o artificialismo e o fingimento. Ele se torna vítima de um cristianismo sem poder. O homem que recebeu a Palavra sem poder apurou a sua sebe, mas esta continua sendo uma sebe de espinhos e jamais poderá produzir os frutos da nova vida. Os homens não podem colher uvas dos espinheiros nem figo dos abrolhos. Entretanto, tal homem pode ser um líder na igreja, e as suas idéias podem chegar a influenciar sua geração.” 

(A.W. Tozer, 1951)
Palavras como esta fez de A. W. Tozer um homem mal visto por “cristãos” superficiais e em busca de diversão religiosa. A visão aguçada desse homem lúcido foi dada por Deus em um momento necessário para sua igreja. Suas palavras, nascidas nas incessantes madrugadas solitárias de oração e de um atordoador desapego para com este mundo, atravessaram as fronteiras geográficas e do tempo, alcançaram corações que amam ao Senhor em dezenas de países e o fez assentar na fileira dos grandes profetas que Deus levantou no século XX.

Tozer morreu em 1963. Na sua lápide foi escrito: “A. W. Tozer, Um homem de Deus”. É estranho começar a descrever um homem pelo seu túmulo. Mas esta afirmação que os irmãos colocaram em sua homenagem, representa o sonho que este homem teve em toda sua vida: Ser “apenas” um homem de Deus. O reconhecimento não foi fruto de lábios lisonjeadores, mas da vida divina que exalava de um homem simples, sério e que amava profundamente ao Senhor e a sua Palavra.

Um homem a frente de seu tempo. Enxergou a fase embrionária de boa parte da apostasia que começava a assolar a igreja e suas gravíssimas conseqüências no decorrer dos anos. Certa vez escreveu: “Urge voltarmos ao verdadeiro cristianismo, não apenas no que se refere ao credo mas também a prática real de vida. Separação, obediência, humildade, naturalidade, seriedade, autodomínio, modéstia, longanimidade: tudo isso precisa fazer parte do viver cotidiano normal de quem se diz discípulo de Jesus. Precisamos purificar o templo, tirando os mercenários e os cambiadores, e ficarmos sob a autoridade do Senhor ressurreto. Daí, sim, poderemos orar em plena confiança, e aguardar o verdadeiro reavivamento que certo virá”. No seu enterro alguém disse: “Eu temo que nós nunca vejamos outro Tozer. Homens como ele não são gerados nas faculdades de teologia, mas ensinados pelo Espírito Santo”.

Sentimos muita alegria em falar de Tozer, pois tivemos devastadora influência dos escritos dele. Quando conhecemos o primeiro livro dele, não descansamos até conseguir todas as publicações disponíveis no Brasil. O alimento espiritual sólido que eles proporcionam foi de imensurável valor em nossas vidas.

Aiden Wilson Tozer nasceu em Newburg (naquele tempo conhecida como La Jose), Pensilvânia, Estados Unidos, em 21 de abril de 1897. Em 1912, sua família deixou a fazenda e foi para Akron, Ohio; e, em 1915, aos 17 anos de vida, converteu-se a Cristo, e imediatamente passou a ter uma fome e sede insaciáveis por Deus. O porão de sua casa se transformou em seu local de solidão com Deus e a sua palavra.

Em 1919, começou a pastorear a Alliance Church, em Nutter Fort, West Virginia. Também pastoreou igrejas em Morgantown, West Virginia; Toledo; Ohio; Indianapolis, Indiana; e, em 1928, foi para a Southside Alliance Church, em Chicago. Ali, ministrou até novembro de 1959, quando tornou-se pastor da Avenue Road Church, em Toronto, no Canadá.

Nas muitas dificuldades financeiras no início de seu ministério, Tozer sempre aprendeu a crer na provisão do Senhor. Sempre dizia que tendo sua provisão básica e seus livros de meditação, estava contente. Este princípio nunca foi abandonado por ele. Mesmo quando o panorama em sua volta mudou, Tozer recusou qualquer luxo e qualquer coisa que não fosse necessidade básica. Recusou até mesmo ter um carro, optando por andar de ônibus e trem. Os direitos autorais que recebia de seus livros eram doados aos que estavam em necessidade. Ele era um homem livre, que não tinha necessidade de bajular homens, tal como deve ser um profeta.

Em certo momento de seu ministério, quando pastor em Indianápolis (EUA), sentiu um forte encargo do Senhor em registrar suas palavras em livros. Aos sedentos pela Palavra de Deus cabe um agradecimento especial ao nosso Senhor por este cuidado para com seus filhos. É tremendo como Deus perpetuou sua palavra através da vida deste homem. Com quase meio século após sua morte, o ministério de Tozer está vivo como nunca. Seus preciosos livros rodam o mundo todo, em dezenas de idiomas, carregando uma palavra profética de conteúdo imensurável. Eles causam repugnância aos superficiais, mas alimentam solidamente os que buscam conhecer profundamente a Jesus. Seus livros não ocupam lugares nas vitrines dos mercadores da fé, mas são publicados por trabalhos sérios, a exemplo da Editora dos Clássicos.

Tudo o que Tozer ensinou e pregou saiu do muito tempo que Ele passava em oração diária com Deus; Era quando deixava o mundo e sua confusão lá fora, e focalizava sua atenção só em Deus. “Nossas atividade religiosas deveriam ser ordenas de tal modo a sobrar bastante tempo para cultivo dos frutos da solidão e do silêncio”, escreveu ele. E mais: “Quando começamos a falar excessivamente em oração, podemos estar quase certos que estamos falando conosco mesmo”.

Ele sempre dizia: “Procuramos a Deus porque, e somente porque, Ele primeiramente colocou em nós o anseio que nos lança nessa busca. 'Ninguém pode vir a mim', disse o Senhor Jesus, 'se o Pai que me enviou não o trouxer a mim' ( Jo 6:44), e é justamente através desse trazer proveniente, que Deus tira de nós todo vestígio de mérito pelo ato de nos achegar-mos a Ele. O impulso de buscar a Deus origina-se em Deus, mas a realização do impulso depende de O seguirmos de todo o coração. E durante todo o tempo em que O buscarmos, já estamos em Sua mão: “… o Senhor o segura pela mão”. (Sl 37:24).

O que há nas obras de A. W. Tozer que nos prende a atenção e nos cativa? Primeiro, ele Tozer escrevia com convicção. Não estava interessado nos cristãos superficiais de Atenas que estavam à procura de algo novo. Tozer mergulhou novamente nas antigas fontes e nos chamou de volta às veredas do passado, tendo plena convicção e colocando em prática as verdades que ensinava.

Tozer era um místico cristão em uma época pragmática e materialista. Ele ainda nos convida a ver aquele verdadeiro mundo das coisas espirituais que transcendem o mundo material que tanto nos atraem. Suplica para que agrademos a Deus e nos esqueçamos da multidão. Ele nos implora que adoremos a Deus de modo que nos tornemos mais parecidos com Ele. Como esta mensagem é desesperadamente necessária em nossos dias!

A. W. Tozer recebeu a dádiva de compreender uma verdade espiritual e erguê-la para a luz para que, como um diamante, cada faceta fosse observada e admirada. Ele não se perdeu nos pântanos da homilética; o vento do Espírito soprava e ossos mortos reviviam. Suas obras eram como graciosos camafeus cujo valor não se avalia por seu tamanho. Sua pregação se caracterizava pela intensidade espiritual que penetrava no coração do ouvinte e o ajudava a ver Deus. Feliz é o cristão que possui um livro de Tozer à mão quando sua alma está sedenta e ele sente que Deus está longe.

Tozer, em suas obras, nos entusiasma tanto sobre a verdade que nos esquecemos de Tozer e tratamos de pegar a Bíblia. Ele mesmo sempre dizia que o melhor livro é aquele que faz o leitor parar e pensar por si mesmo. Tozer é como um prisma que concentra a luz e depois revela sua beleza.

NOTA: Este texto tem conteúdo do site, do livro “O Melhor de Tozer", Editora dos Clássicos e do Livro “O Poder Latente da Alma", Watchman Nee, Editora dos Clássicos.                                        


George Whitefield (1714-1770)

Um pára-raios do Grande Despertamento

Adaptado de uma biografia por Dr. Rimas J. Orentas
Fonte: Revista Impacto
George Whitefield viveu de 1714 a 1770. Na sua vida adulta, era tão conhecido quanto qualquer outra figura pública nos países de língua inglesa. Com apenas 22 anos, era um dos mais destacados proponentes do movimento religioso que sacudiu aqueles países, que seria conhecido como o Grande Despertamento. Talvez se possa dizer que só a Reforma Protestante e a Era Apostólica tenham ultrapassado o fervor espiritual que Deus derramou neste período.

George Whitefield pregou na Inglaterra, na Escócia, no País de Gales, em Gibraltar, em Bermudas, e nas colônias norte-americanas. Sua vida serviu de inspiração e tocha para vários outros pregadores contemporâneos e posteriores. Eram homens de fervor que procuravam entregar suas vidas 100% a Cristo Jesus.

A seguir, alguns fatos a respeito da sua juventude, conversão e preparação para o ministério.

George era o sétimo e último filho de Thomas e Elizabeth Whitefield. O pai era proprietário da Bell Inn, um hotel em Gloucester, na Inglaterra. Era o maior e mais fino estabelecimento da cidade e tinha dois auditórios, um dos quais era usado para exibição de peças teatrais.

Quando tinha apenas dois anos de idade, o pai de George faleceu. Depois de alguns anos, sua mãe casou-se novamente, porém foi uma união malograda que terminou em divórcio e fracasso financeiro.

Desde pequeno, George se destacou como talentoso orador e ator nas peças teatrais da escola. Sua mãe, vendo seu potencial, fez questão que ele estudasse, embora outros de seus irmãos tivessem que trabalhar para sustentar a família. Da mãe, George herdou a forte ambição de ser "alguém no mundo". De alguma forma, ela sempre esperava mais dele do que de seus outros filhos. Outra influência forte na juventude era sua paixão pelo teatro. Como garoto, lia incessantemente peças teatrais e faltava da escola para ensaiar suas apresentações. Esta necessidade e dom de se expressar dramaticamente continuariam durante todo o resto da sua vida.

Aos quinze anos de idade, George foi obrigado a deixar seus estudos para trabalhar pelo sustento da família. Durante o dia trabalhava e à noite lia a Bíblia. Seu sonho era de estudar em Oxford. Porém, não havia condições financeiras para isto. Finalmente, sua mãe descobriu uma saída. Ele poderia ir como "servidor", que era uma espécie de empregado para três ou quatro estudantes de classe alta. Assim, aos 17 anos, com muita expectativa, ingressou na Universidade.

A Busca Intensa Por Deus

Suas responsabilidades como servidor incluíam lavar as roupas, engraxar os sapatos e fazer as tarefas dos estudantes a quem servia. Os servidores viviam com o dinheiro e as roupas usadas que aqueles quisessem lhes dar. Tinham de usar uma túnica especial e era proibido que os estudantes de nível mais elevado lhes dirigissem a palavra. A maioria acabava abandonando os estudos para não terem que sofrer tamanha humilhação. George era extremamente intenso e dedicado e, achando que tinha de ganhar a aprovação de Deus, visitava prisioneiros e pobres, além de todas suas outras obrigações. Seus colegas, por um tempo, tentaram atraí-lo à vida social e às festas, mas logo viram que não adiantaria e deixaram-no em paz Alguns começaram a chamá-lo de "metodista", que era o nome pejorativo que davam aos membros do Clube Santo, embora ele ainda não tivesse tido nenhum contato com aquele grupo. Como servidor, não lhe era permitido tomar a iniciativa de procurá-los.

O Clube Santo era um pequeno grupo de estudantes dirigido por um professor em Oxford, chamado John Wesley. Aos outros estudantes, a vida disciplinada exigida pelo Clube parecia tolice e o nome "metodista" dava a idéia de uma vida regida por métodos mecânicos, desprovidos de racionalidade, como se as pessoas fossem meros robôs.

Foi Charles Wesley que ouviu falar desse aluno dedicado e piedoso e, rompendo as barreiras sociais, procurou Whitefield e o convidou para um café da manhã. Com isso, iniciou-se uma amizade que duraria para o resto das suas vidas.

Os membros do Clube Santo levantavam-se cedo, tinham prolongados tempos de devoções a sós com Deus, praticavam autodisciplina e tentavam garantir que nenhum momento do dia fosse desperdiçado. À noite, guardavam um diário para fazer uma avaliação da sua vida e arrancar qualquer pecado que estivesse brotando ou se manifestando. Celebravam a Eucaristia aos domingos, jejuavam toda quarta e sexta-feira e usavam o sábado como dia de preparação para a festa do Senhor no domingo.

O Clube Santo também era profundamente comprometido com a Igreja Anglicana e conhecia sua história e suas normas melhor que ninguém. Visitavam prisões e bairros pobres, e contribuíam a um fundo de auxílio para os presidiários e especialmente para os seus filhos. Os membros também se esforçavam muito no pastoreamento de estudantes mais jovens, ensinando-os a evitar más companhias e encorajando-os a serem sóbrios e estudiosos, até mesmo auxiliando-os quando tinham dificuldades nos estudos. Tudo isto era ótimo, mas havia um problema fundamental: era uma salvação baseada em obras. Por mais que fizessem, experimentavam pouquíssima alegria, pois a natureza da sua salvação ainda era um mistério insondável e Deus estava distante. Nenhum dos líderes havia ainda experimentado a verdadeira graça de Deus no evangelho de Jesus Cristo.

O Desespero Fica Maior

Whitefield ficou mais e mais consciente do seu anseio interior por conhecer Deus de forma íntima e verdadeira, mas não sabia aonde recorrer. Ele lia com voracidade e finalmente achou um livro antigo, escrito por um escocês desconhecido, o Rev. Henry Scougal, intitulado A Vida de Deus na Alma do Homem. Neste livro, ele descobriu que todas suas boas ações, que pensava estarem conquistando-lhe o favor de Deus, não tinham valor algum. O que precisava realmente era Cristo ser formado "dentro" dele, ou seja, nascer de novo.

Scougal ensinou que a essência do cristianismo não é a execução de obrigações exteriores, nem uma emoção ou sentimento que se pode ter. A verdadeira religião é a união da alma com Deus, a participação na natureza divina, viver de acordo com a imagem de Deus desenhada sobre nossa alma – ou na terminologia do apóstolo, ter "Cristo formado em nós". Whitefield aprendeu destes ensinos a maravilha que é Deus querer habitar no nosso coração e realizar sua obra através de nós, e quão profunda e admirável é a graça que torna possível a vida de Deus habitar na alma do homem.

Este livro maravilhoso, porém, acabou deixando Whitefield quase enlouquecido. Ele não sabia como nascer de novo, mas começou a buscar esta experiência com todas suas forças. Deixou de comer certos alimentos e dava o dinheiro que economizou com isto aos pobres; usava só roupas remendadas e sapatos sujos; passava a noite inteira em fervorosa e suada oração; e não falava com ninguém. Para negar a si mesmo, abandonou a única coisa de que realmente gostava, que era o Clube Santo. Começou a ir mal nos estudos e foi ameaçado com expulsão. Seus colegas o acharam completamente "pirado". Orava ao ar livre, no relento, mesmo nas madrugadas mais gélidas, até que uma de suas mãos ficou preta. Finalmente, ficou tão doente, enfraquecido e magro que não conseguia nem subir a escada para sair do quarto. Tiveram de chamar um médico que o confinou à cama por sete semanas.

Uma Simples Oração

De forma surpreendente, foi neste tempo de descanso e recuperação que sua vida finalmente foi transformada. Ele ainda mantinha um tempo devocional com Deus, de acordo com suas forças. Mas agora começou a orar de forma mais simples, deixando de lado todas suas idéias e esforços e tentando realmente escutar a voz de Deus.

Certo dia, ele se jogou sobre a cama e clamou: "Tenho sede!" Foi a primeira vez que havia clamado a Deus em total incapacidade e insuficiência. E foi a primeira vez em mais de um ano que sentira alegria.

Neste momento de total entrega ao Deus Todo-poderoso, um pensamento novo penetrou seu coração. "George, você já tem o que pediu! Você cessou suas pelejas e simplesmente creu e agora nasceu de novo!"

Foi tão simples, tão absurdamente simples, ser salvo por uma oração tão singela, que Whitefield começou a rir. E assim que riu, as comportas dos céus se romperam e sua vida foi inundada por "gozo indizível, cheio e transbordando de grande glória".

Sua aparência exterior ainda era de um universitário doentio e fraco, porém a carreira do maior evangelista do século XVIII tinha acabado de nascer. Ele ainda levou nove meses para recuperar fisicamente, mas no seu coração havia só um desejo: compartilhar as Boas Novas que Jesus Cristo viera para os pecadores e que o pecador só precisava arrepender-se, aceitar a morte expiatória de Jesus e lançar-se espiritualmente nas mãos de Deus.

Em sua casa em Gloucester, Whitefield manteve sua vida disciplinada do Clube Santo, mas tudo agora tinha um novo significado. Não era mais para alcançar o favor de Deus ou tornar-se justo, mas para focalizá-lo em servir a Deus. Diariamente, meditava numa passagem bíblica que lia em inglês, depois em grego, e finalmente no famoso comentário de Matthew Henry. Orava sobre cada linha que lia, até que entendesse e recebesse o seu significado, e sentisse que já fazia parte da sua vida. Logo fundou uma pequena sociedade que se reunia todas as noites.

O Leão Começa a Rugir

Não demorou muito e já estava tendo oportunidades de pregar. Inicialmente, tinha receio de ser ordenado muito jovem e de se envaidecer. Mas colocou diante de Deus um sinal: se, por um milagre, houvesse provisão para voltar a Oxford e se formar, ele aceitaria a ordenação. E, pouco a pouco, foi isto que aconteceu. Ao mesmo tempo, soube que os irmãos Wesley tinham ido à América como missionários e que precisavam de alguém para dirigir o Clube Santo. Desta forma, voltou a Oxford, completou seu curso e foi ordenado.

Inicialmente, tentou ficar quieto no seu lugar. Seu objetivo era alcançar outros estudantes, na base de um a um. Mas havia um problema. Desde o momento que abriu sua boca, todos queriam ouvir mais. Depois de quatro semanas pregando mensagens em Gloucester, Bristol e Bath, um pequeno avivamento se iniciara. As igrejas estavam lotadas e as ruas estavam cheias de gente tentando entrar. Whitefield tinha apenas 22 anos.

Apesar da sua formação acadêmica, Whitefield utilizou muito mais seus talentos dramáticos para comunicar as verdades espirituais do que conhecimentos intelectuais. Concentrou no aperfeiçoamento do que hoje chamaríamos de linguagem corporal. A paixão seria sua chave na pregação das verdades espirituais que muitos já tinham ouvido, porém sem vida.

Sem muita prática em homilética, sua sensibilidade dramática logo o colocou numa classe à parte. Lágrimas, fortes emoções, agitado movimento corporal – mas acima de tudo, uma experiência intensamente pessoal do Novo Nascimento – eram características da sua pregação e das reações dos seus ouvintes. Sua prodigiosa memória o capacitava a transformar o púlpito num teatro sagrado que representava os santos e pecadores da Bíblia diante dos seus ouvintes fascinados.

Entre os que ficavam encantados diante das pregações, estava um grande ator inglês, David Garrick, que exclamou: "Eu daria cem guineas (moeda inglesa da época – equivalente a mais de uma libra moderna) se eu pudesse dizer Oh como o Sr. Whitefield!"

Com suas mensagens vivas, dramáticas e cheias de alegria espiritual, o país da Inglaterra começou a ser abalado. As verdades eram simples, diretas e baseadas nas doutrinas básicas do novo nascimento e da justificação pela fé. Mas para as pessoas que nunca antes ouviram tais coisas com clareza, eram como descargas de raios no coração. Ele não estava declarando sua própria mensagem, mas a mensagem de Deus: "É necessário nascer de novo".

Logo houve resistência, principalmente por parte dos clérigos que se perturbavam com a oração de Whitefield para que eles também nascessem de novo. Pessoas das camadas mais elevadas da sociedade também não gostavam de ouvir que eram pecadores e precisavam se arrepender.

Uma Forma Revolucionária de Pregar

Em 1739, com 24 anos de idade, Whitefield começou a pregar ao ar livre. Várias igrejas haviam fechado as portas para suas pregações e ele não queria depender mais da disponibilidade de igrejas ou auditórios. Partiu para Kingswood, perto de Bristol, onde havia milhares de mineiros de carvão, que viviam em condições deploráveis. Homens, mulheres e crianças trabalhavam longas horas embaixo da terra, no meio de morte e doença. Para Whitefield, eram como ovelhas sem pastor.

Em fevereiro, o frio era intenso, mas ao passar pelos barracos e favelas, Whitefield encontrou 200 pessoas dispostas a ir ouvi-lo. Ele pregou dramaticamente sobre o amor de Jesus por eles e como sofreu a cruel morte da crucificação, só para salvá-los dos seus pecados. Enquanto pregava, começou a notar faixas brancas nas faces enegrecidas de alguns mineiros. Logo, todos os rostos escuros estavam manchados com as valetas brancas das lágrimas que corriam enquanto o evangelho de Jesus convencia a todos, um por um.

Três dias depois, Whitefield foi proibido de pregar em Bristol novamente pelo conselho da diocese. Porém, no dia seguinte ele pregou na própria mina, onde desta vez havia 2000 pessoas para ouvi-lo. No domingo seguinte, havia 10.000 e muito mais pessoas da cidade do que das minas. E no dia 25 de março de 1739, a multidão foi estimada em 23.000. Com este método heterodoxo e controvertido de pregação ao ar livre, parecia não haver limites para o crescimento do Grande Despertamento.

Estima-se que Whitefield tenha pregado para mais de dois milhões de pessoas, só naquele verão. Sua ousada pregação nos campos abalara de vez o fraco e tímido cristianismo da sua época. Quando chegou em Filadélfia, em agosto daquele ano, os jornais noticiaram que George Whitefield havia pregado a mais pessoas do que qualquer outra pessoa viva, e provavelmente do que qualquer outra pessoa na história, até então.

Melhor Esgotar-se do que Enferrujar

Whitefield cruzou sete vezes o oceano Atlântico entre a Inglaterra e a América. Faleceu em 1770, com apenas 55 anos de idade. Em 34 anos de ministério, pregou mais de 18.000 sermões, ou uma média de mais de 10 por semana. No seu último ano de vida, apesar da saúde prejudicada pela extrema intensidade da sua vida, recusou-se a parar, dizendo que preferiria se "esgotar a enferrujar".

Antes de pregar sua última mensagem, sentindo-se muito mal, Whitefield orou: "Senhor, se ainda não completei minha carreira, deixa-me ir falar por ti mais uma vez no campo, selar tua verdade e voltar para casa e morrer!"

Sua oração foi respondida. Seu último discurso foi no meio da tarde, num campo, em cima de um barril. Seu texto foi: "Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé" (2 Co 13.5). O tema foi o novo nascimento.

No começo falava com muita dificuldade, sua voz rouca, sua dicção pesada. Frase após frase saía sem muito nexo, sem atenção a objetivo ou oratória. Mas, de repente, sua mente se acendeu e sua voz de leão bradou mais uma vez, alcançando as extremidades da sua audiência.

Falando da ineficácia de obras para merecer a salvação, Whitefield trovejou: "Obras! Obras! O homem alcançar o céu por obras! Eu pensaria antes em alcançar a lua subindo numa corda de areia!"

Esta foi a exortação final do grande pregador. A luz que brilhou na sua alma queimou com ardor até o fim da sua vida.

Talvez Deus não lhe tenha dado uma voz de leão, nem o talento dramático da comunicação em massa. Mas não há limites para o que Deus pode fazer através de uma vida, por jovem que seja, quando o genuíno fogo do céu se acende nela.                                                                             


Dwight Lyman Moody (1837-1899)

Antes do amigo visitante ler esta biografia, destacamos dois fatos que podem ilustrar o homem D.L. Moody, responsável por levar mais de 500.000 pessoas a Cristo. Certa feita, Moody estava a dirigir uma reunião e convocou um dos presentes a dirigir uma oração. O homem começou sua oração com retórica e foi se prolongando sem medida. De súbito, ouve-se uma voz forte: - Irmãos, vamos cantar um hino, enquanto nosso irmão termina seu discurso. À palavra seguiu-se o início do hino. No meio do auditório, naquela noite, converteu-se um homem que seria mais tarde um dos maiores evangelistas de todos os tempos: o médico Greenfel, do Labrador.

No começo de seu ministerio (por volta dos 21 anos de idade), em um certo domingo, visitou uma Escola Bíblica Dominical. Pediu permissão para ensinar também uma classe. O dirigente respondeu: "Há doze professores e dezesseis alunos, porém o senhor pode ensinar todos os alunos que conseguir trazer à escola". Foi grande a surpresa de todos quando Moody, no domingo seguinte, entrou com dezoito meninos da rua, sem chapéu, descalços e de roupa suja e esfarrapada, mas, como ele disse: "Todos com uma alma para ser salva". Continuou a levar cada vez mais alunos à Escola até que, alguns domingos depois, no prédio não cabiam mais; então resolveu abrir outra escola em outra parte da cidade.


Tudo aconteceu durante uma das famosas campanhas de Moody e Sankey para salvar almas. A noite de uma segunda-feira tinha sido reservada para um discurso dirigido aos materialistas. Carlos Bradlaugh, campeão do ceticismo, então no zênite da fama, ordenou que todos os membros dos clubes que fundara assistissem à reunião. Assim, cerca de 5.000 homens, resolvidos a dominar o culto, entraram e ocuparam todos os bancos.

Moody pregou sobre o texto: "A rocha deles não é como a nossa Rocha, sendo os nossos próprios inimigos os juizes" (Deuteronômio 32: 31).

"Com uma rajada de incidentes pertinentes e comoventes das suas experiências com pessoas presas ao leito de morte, Moody deixou que os homens julgassem por si mesmo quem tinha melhor alicerce sobre o qual deviam basear sua fé e esperança. Sem querer, muitos dos assistentes tinham lágrimas nos olhos. A grande massa de homens demonstrando o mais negro e determinado desafio a Deus estampado nos seus rostos, encarou o contínuo ataque de Moody aos pontos mais vulneráveis, isto é, o coração e o lar.

"Ao findar, Moody disse: 'Levantemo-nos para cantar: Oh! vinde vós aflitos! e, enquanto o fazemos, os porteiros abram todas as portas para que possam sair todos os que quiserem. Depois faremos o culto, como de costume, para aqueles que desejam aceitar o Salvador'. Uma das pessoas que assistiu a esse culto, disse: 'Eu esperava que todos saíssem imediatamente, deixando o prédio vazio. Mas a grande massa de cinco mil homens se levantou, cantou e assentou-se de novo; nenhum deles deixou seu assento!'"

"Moody, então disse: 'Quero explicar quatro palavras: Recebei, crede, confiai, aceitai'. Um grande sorriso passou de um a outro em todo aquele mar de rostos. Depois de falar um pouco sobre a palavra recebei, fez um apelo: 'Quem quer recebê-lo? É somente dizer: 'Quero'. Cerca de cinqüenta dos que estavam em pé e encostado às paredes, responderam: 'Quero', mas nenhum dos que estavam sentados. Um homem exclamou: 'Não posso'. Moody então replicou: 'Falou bem e com razão, amigo; foi bom ter falado. Escute e depois poderá dizer: 'Eu posso'. Moody então explicou o sentido da palavra crer e fez o segundo apelo: 'Quem dirá: Quero crer nele?' De novo alguns dos homens que estavam em pé responderam, aceitando, mas um dos chefes dirigente dum clube, bradou: 'Eu não quero!' Moody, vencido pela ternura e compaixão, respondeu com voz quebrantada: 'Todos os homens que estão aqui esta noite têm de dizer: Eu quero ou Eu não quero'".

"Então, levou todos a considerarem a história do Filho Pródigo, dizendo: 'A batalha é sobre o querer - só sobre o querer. Quando o Filho Pródigo disse: Levantar-me-ei a luta foi ganha, porque alcançara o domínio sobre a sua própria vontade. É com referência a este ponto que depende de tudo hoje. Senhores, tendes aí em vosso meio o vosso campeão, o amigo que disse: Eu não quero. Desejo que todos aqui, que acreditam que esse campeão tem razão, levantem-se e sigam o seu exemplo, dizendo: Eu não quero'. Todos ficaram quietos e houve silêncio até que, por fim, Moody interrompeu, dizendo: 'Graças a Deus! Ninguém disse: Eu não quero. Agora quem dirá: Eu quero? Instantaneamente parece que o Espírito Santo tomou conta do grande auditório de inimigos de Jesus Cristo, e cerca de quinhentos homens puseram-se de pé, as lágrimas rolando pelas faces e gritando: 'Eu quero! Eu quero!' Clamando até que todo o ambiente se transformou. A batalha foi ganha".

"O culto terminou sem demora, para que se começasse a obra entre aqueles que estavam desejosos de salvação. Em oito dias, cerca de dois mil foram transferidos das fileiras do inimigo para o exército do Senhor, pela rendição da vontade. Os anos que se seguiram provaram a firmeza da obra, pois os clubes nunca mais se ergueram. Deus, na sua misericórdia e poder, os aniquilou por seu Evangelho".

Um total de quinhentas mil preciosas almas ganhas para Cristo, é o cálculo da colheita que Deus fez por intermédio de seu humilde servo, Dwight Lyman Moody. R. A. Torrey, que o conheceu intimamente, considerava-o, com razão, o maior homem do século XIX, isto é, o homem mais usado por Deus para ganhar almas.

Que ninguém julgue, contudo, que D. L. Moody era grande em si mesmo ou que tinha oportunidades que os demais não têm. Seus antepassados eram apenas lavradores que viveram por sete gerações, ou duzentos anos, no vale do Connecticut, nos Estados Unidos. Moody nasceu a 5 de fevereiro de 1837, de pais pobres, o sexto entre nove filhos. Quando era ainda pequeno, seu pai faleceu e os credores tomaram conta do que ficou, deixando a família destituída de tudo, até da lenha para aquecer a casa em tempo de intenso frio.

Não há história que comova e inspire tanto quanto a daqueles anos de luta da viúva, mãe de Moody. Poucos meses depois da morte de seu marido, nasceram-lhe gêmeos e o filho mais velho tinha apenas doze anos. O conselho de todos os parentes foi que ela entregasse os filhos para outros criarem. Mas com invencível coragem e santa dedicação a seus filhos, ela conseguiu criar todos os nove filhos no próprio lar. Guarda-se ainda, como tesouro precioso, sua Bíblia com as palavras de Jeremias 49:11 sublinhadas: "Deixa os teus órfãos, eu os conservarei em vida; e confiem em mim tuas viúvas".

- "Pode-se esperar outra coisa a não ser que os filhos ficassem ligados à mãe e que crescessem para se tornarem homens e mulheres que conhecessem o mesmo Deus que ela conhecia?"- Assim se expressou Moody, ao lado do ataúde quando ela faleceu com a idade de noventa anos: - "Se posso conter-me, quero dizer algumas palavras. É grande honra ser filho de uma mãe como ela. Já viajei muito, mas nunca encontrei alguém como ela. Ligava a si seus filhos de tal maneira que representava um grande sacrifício para qualquer deles afastar-se do lar. Durante o primeiro ano depois que o meu pai faleceu, ela adormecia todas as noites chorando. Contudo, estava sempre alegre e animada na presença dos filhos. As saudades serviam para chegá-la mais perto de Deus. Muitas vezes eu me acordava e ela estava orando, às vezes, chorando. Não posso expressar a metade do que desejo dizer. Aquele rosto, como é querido! Durante cinqüenta anos não senti gozo maior do que o gozo de voltar a casa. Quando estava ainda a setenta e cinco quilômetros de distância, já me sentia tão inquieto e desejoso de chegar que me levantava do assento para passear pelo carro até o trem chegar à estação... Se chegava depois de anoitecer, sempre olhava para ver a luz na janela da minha mãe. Senti-me tão feliz esta vez por chegar a tempo de ela ainda me reconhecer! Perguntei-lhe: - 'Mãe, me reconhece? Ela respondeu: - 'Ora, se eu te reconheço! 'Aqui está a sua Bíblia, assim gasta, porque é a Bíblia do lar; tudo que ela tinha de bom veio deste Livro e foi dele que nos ensinou. Se minha mãe foi uma bênção para o mundo é porque bebia desta fonte. A luz da viúva brilhou do outeiro durante cinqüenta anos. Que Deus a abençoe, mãe; ainda a amamos! Adeus, por um pouco, mãe!"

Todos os filhos da viúva Moody assistiam aos cultos nos domingos; levavam merenda para passar o dia inteiro na igreja. Tinham de ouvir dois prolongados sermões e, no intervalo, assistir à Escola Dominical. Dwight, depois de trabalhar a semana inteira, achava que sua mãe exigia demais obrigando-o a assistir aos sermões, os quais não compreendia. Mas, por fim, chegou a ser agradecido a essa boa mãe pela dedicação nesse sentido.

Com a idade de dezessete anos, Moody saiu de casa para trabalhar na cidade de Boston, onde achou emprego na sapataria de um tio seu. Continuou a assistir aos cultos, mas ainda não era salvo.

Notai bem, os que vos dedicais à obra de ganhar almas: não foi num culto que Dwight Moody foi levado ao Salvador. Seu professor da Escola Dominical, Eduardo Kimball, conta: "Resolvi falar-lhe acerca de Cristo e de sua alma. Vacilei um pouco em entrar na sapataria, não queria embaraçar o moço durante as horas de serviço. Por fim, entrei, resolvido a falar sem mais demora. Achei Moody nos fundos da loja, embrulhando calçados. Aproximei-me logo dele e, colocando a mão sobre seu ombro, fiz o que depois parecia ser um apelo fraco, um convite para aceitar a Cristo. Não me lembro do que eu disse, nem mesmo Moody podia lembrar-se alguns anos depois. Simplesmente falei do amor de Cristo para com ele, e o amor que Cristo esperava dele, de volta. Parecia-me que o moço estava pronto para receber a luz que o iluminou naquele momento e, lá nos fundos da sapataria, entregou-se a Cristo".

Era costume das igrejas daquela época, alugarem os assentos. Moody, logo depois da sua conversão, transbordando de amor para com o seu Salvador, pagou aluguel de um banco, percorrendo as ruas, hotéis e casas de pensão solicitando homens e meninos para enchê-lo em todos os cultos. Depois alugou mais um, depois outro, até conseguir encher quatro bancos, todos os domingos. Mas isso não era suficiente para satisfazer o amor que sentia para com os perdidos. Certo domingo visitou uma Escola Dominical em outra rua. Pediu permissão para ensinar também uma classe. O dirigente respondeu: "Há doze professores e dezesseis alunos, porém o senhor pode ensinar todos os alunos que conseguir trazer à escola". Foi grande a surpresa de todos quando Moody, no domingo seguinte, entrou com dezoito meninos da rua, sem chapéu, descalços e de roupa suja e esfarrapada, mas, como ele disse: "Todos com uma alma para ser salva". Continuou a levar cada vez mais alunos à Escola até que, alguns domingos depois, no prédio não cabiam mais; então resolveu abrir outra escola em outra parte da cidade. Moody não ensinava, mas arranjava professores, providenciava o pagamento do aluguel e de outras despesas. Em poucos meses essa escola veio a ser a maior da cidade de Chicago. Não julgando conveniente pagar outros para trabalhar no domingo, Moody, cedo, pela manhã, tirava as pipas de cerveja (outros ocupavam o prédio durante a semana), varria e preparava tudo para o funcionamento da escola. Depois, então, saía par convidar alunos. Às duas horas, quando voltava de fazer os convites, achava o prédio repleto de alunos.

Depois de findar a escola, ele visitava os ausentes e convidava todos para estarem a pregação, à noite. No apelo, após o sermão, todos os interessados era convidados a ficar para um culto especial, no qual tratavam individualmente com todos. Moody também participava nessa colheita de almas.

Antes de findar o ano, 600 alunos, em média, assistiam à Escola Dominical, divididos em 80 classes. A seguir a assistência subia a 1.000 e, as às vezes, a 1.500.

Ao mesmo tempo que Moody se aplicava à Escola Dominical com tais resultados, esforçava-se, também, no comércio todos os dias. O grande alvo da sua vida era vir a ser um dos principais comerciantes do mundo, um multimilionário. Não tinha mais de 23 anos é já tinha ajuntado 7.000 dólares! Mas seu Salvador tinha um plano ainda mais nobre para seu servo.

Certo dia, um dos professores da Escola Dominical entrou na sapataria onde Moody negociava. Informou-o de que estava tuberculoso e que, desenganado pelos médicos, resolvera voltar para Nova Iorque e aguardar a morte. Confessou-se muito perturbado, não porque tinha de morrer, mas porque até então não conseguira levar ao Salvador nenhuma das moças da sua classe da Escola Dominical. Moody, profundamente comovido, sugeriu que visitassem juntos as moças em suas casas, uma por uma. Visitaram uma, o professor falou-lhe seriamente acerca da salvação da sua alma. A moça deixou seu espírito leviano e começou a chorar, entregando-se ao seu Salvador. Todas as outras moças que foram visitadas naquele dia fizeram o mesmo.

Passados dez dias, o professor foi novamente à sapataria. Com grande gozo informou a Moody que todas as moças se haviam entregado a Cristo. Resolveram então convidar todas para um culto de oração e despedida na véspera da partida do professor para Nova Iorque. Todos se ajoelharam e Moody, depois de fazer uma oração, estava para se levantar quando uma das moças começou, também, a orar. Todos oraram suplicando a Deus em favor do professor. Ao sair Moody suplicou: "Ó Deus, permite-me morrer antes de perder a bênção que recebi hoje aqui!"

Moody, mais tarde, confessou: "Eu não sabia o preço que tinha de pagar, como resultado de haver participado na evangelização individual das moças. Perdi todo o jeito de negociar; não tinha mais interesse no comércio. Experimentara um outro mundo e não mais queria ganhar dinheiro...Oh! delícia, a de levar uma alma das trevas desde mundo à gloriosa luz e liberdade do Evangelho!"

Então, não muito depois de casar-se, com a idade de vinte e quatro anos, Moody deixou um bom emprego com salário de cinco mil dólares por ano, um salário fabuloso naquele tempo, para trabalhar todos os dias no serviço de Cristo, sem ter promessa de receber um único cêntimo. Depois de tomar essa resolução, apressou-se em ir à firma B. F. Jacobs & Cia., onde, muito comovido, anunciou: - "Já resolvi empregar todo o meu tempo no serviço de Deus!" - "Como vai manter-se?" - "Ora, Deus me suprirá de tudo se Ele quiser que eu continue; e continuarei até ser obrigado a desistir".

A parte da biografia de D. L. Moody que trata dos primeiros anos do seu ministério está repleta de proezas feitas na carne. Mencionamos aqui apenas uma, isto é, o fato de Moody fazer 200 visitas em um só dia. Ele mesmo mais tarde se referia àqueles anos como uma manifestação do "zelo de Deus, mas sem entendimento", acrescentando: "Há, contudo muito mais esperança para o homem com zelo e sem entendimento do que para o homem de entendimento sem zelo".

Rompeu a tremenda Guerra Civil e Moody chegou com os primeiros soldados ao acampamento militar onde armou uma grande tenda para os cultos. Depois ajuntou dinheiro e levantou um templo onde dirigiu 1.500 cultos durante a guerra. Uma pessoa que o conhecia assim comentou sua ação: "Moody precisava estar constantemente em todos os lugares, dia e noite, nos domingos e todos os dias da semana; orando, exortando, tratando com os soldados acerca das suas almas, regozijando-se nas oportunidades abundantes de trabalhar no grande fruto ao seu alcance por causa da guerra".

Depois de findar a guerra, dirigiu uma campanha para levantar em Chicago um prédio para os cultos, com capacidade para três mil pessoas. Quando, mais tarde esse edifício foi destruído por um incêndio, ele e dois outros iniciaram outra campanha, antes de os escombros haverem esfriados, para levantar novo edifício. Trata-se do Farwell Hall II, que se tornou um grande centro religioso em Chicago. O segredo desse êxito foram os cultos de oração que se realizavam diariamente, ao meio-dia, precedidos por uma hora de oração de Moody, escondido no vão debaixo da escada .

No meio desses grandes esforços, Moody resolveu, inesperadamente, fazer uma visita à Inglaterra.

Em Londres, antes de tudo, foi ouvir Spurgeon pregar no Metropolitan Tabernacle. Já tinha lido muito do que "o príncipe dos pregadores" escrevera, mas ali pôde verificar que a grande obra não era de Spurgeon, mas de Deus, e saiu de lá com uma outra visão.

Visitou Jorge Müller e o orfanato em Bristol. Desde aquele tempo a Autobiografia de Müller exerceu tanta influência sobre ele como já o tinha feito "O Peregrino", de Bunyan.

Entretanto, nessa viagem, o que levou Moody a buscar definitivamente uma experiência mais profunda com Cristo, foram estas palavras proferidas por um grande ganhador de almas de Dubim, Henrique Varley: "O mundo ainda não viu o que Deus fará com, para, e pelo homem inteiramente a Ele entregue". Moody disse consigo mesmo: "Ele não disse por um grande homem, nem por um sábio, nem por um rico, nem por um eloqüente, nem por um inteligente, mas simplesmente por um homem. Eu sou um homem, e cabe ao homem mesmo resolver se deseja ou não consagrar-se assim. Estou resolvido a fazer todo o possível para ser esse homem". Apesar de tudo isso, Moody, depois de voltar à América, continuava a se esforçar e a empregar métodos naturais. Foi nessa época que a cidade de Chicago foi reduzida a cinzas no pavoroso incêndio de 1871.

Na noite do início do pavoroso incêndio, Moody pregou sobre este tema: - "Que farei, então de Jesus, chamado Cristo? Ao concluir ser sermão, ele disse ao auditório, o maior a que pregara em Chicago: "Quero que leveis esse texto para casa e nele meditais bem durante a semana e no domingo vindouro iremos ao Calvário e à cruz e resolveremos o que faremos de Jesus de Nasaré".

- "Como errei!" Disse Moody, depois. – "Não me atrevo mais a conceder uma semana de prazo ao perdido para decidir sobre a salvação. Se se perderem serão capazes de se levantar contra mim no juízo. Lembro-me bem de como Sankey cantou e como sua voz soou quando chegou a estrofe de apelo: "O Salvador chama para o refúgio. Rompe a tempestade e breve vem a morte".

"Nunca mais vi aquele auditório. Ainda hoje desejo chorar... Prefiro ter a mão direita decepada, a conceder ao auditório uma semana para decidir o que fará de Jesus. Muitos me censuram dizendo: - "Moody, o senhor quer que o povo se decida imediatamente. Por que não lhe dá tempo para consultar?"

"Tenho pedido a Deus muitas vezes que me perdoe por ter dito naquela noite que podiam passar oito dias para considerar, e se Ele poupar minha vida não farei de novo".

O grande incêndio rugiu e ameaçou durante quatro dias; consumindo Farwell Hall, o templo de Moody e a sua própria residência. Os membros da igreja foram todos dispersos. Moody reconheceu que a mão de Deus o castigara para o ensinar, e isso tornou-se para ele motivo de grande regozijo.

Foi a Nova Iorque, a fim de granjear dinheiro para os flagelados do grande incêndio. Acerca do que se passou, ele mesmo escreveu: "Não sentia o desejo no coração de solicitar dinheiro. Todo o tempo eu clamava a Deus pedindo que me enchesse do seu Espírito. Então, certo dia, na cidade de Nova Iorque - Ah! que dia! Não posso decrevê-lo, nem quero falar no assunto; é experiência quase sagrada demais para ser mencionada. O apóstolo Paulo teve uma experiência acerca da qual não falou por catorze anos. Posso apenas dizer que Deus se revelou a mim e tive uma experiência tão grande do seu amor que tive de rogar-lhe que retirasse de mim sua mão. Não quero voltar para viver de novo como vivi outrora nem que eu pudesse possuir o mundo inteiro".

Acerca dessa experiência, um de seus biógrafos acrescentou: "O Moody que andava na rua parecia outro. Nunca jamais bebera mosto, mas então conhecia a diferença entre o júbilo que Deus dá e o falso júbilo de Satanás. Enquanto andava, parecia-lhe que um pé dizia a cada passo, 'Glória!' e o outro respondia, 'Aleluia!'. O pregador rompeu em soluços, balbuciando: 'Ó Deus, constrange-nos andar perto de ti para todo o sempre'".

O Senhor supriu dinheiro para Moody construir um edifício provisório para realizar os cultos em Chicago. Era de madeira rústica, forrada de papel grosso para evitar o frio; o teto era sustentado por fileiras de estacas colocadas no centro. Nessa templo provisório realizaram-se os cultos durante três anos, no meio dum deserto de cinzas. A maior parte do trabalho de construção fora feita pelos membros que moravam em ranchos ou mesmos em lugares escavados por debaixo das calçadas das ruas. Ao primeiro culto assistiram mais de mil crianças com seus respectivos pais !

Esse templo provisório serviu de morada para Moody e Sankey, seu evangelista-cantor; eram tão pobres como os outros em redor, mas tão cheios de esperança e gozo que conseguiram levar muitos a Cristo e se tornaram ricos, apesar de nada possuírem. Onda após onda de avivamento passou sobre o povo. Os cultos continuavam dia e noite, quase sem cessar, durante alguns meses. Multidões choravam seus pecados, às vezes dias inteiros e no dia seguinte, perdoados, clamavam e louvavam em gratidão a Deus. Homens e mulheres até então desanimados participavam do gozo transbordante de Moody, transformado pelo batismo com o Espírito Santo.

Não muito depois de haver construído o templo permanente (com assentos para 2.000 pessoas - e sem endividar-se), Moody fez a sua segunda viagem à Inglaterra. Nos seus primeiros cultos nesse país, encontrou igrejas frias, com pouca assistência e o povo sem interesse nas suas mensagens. Mas a unção do Espírito, que Moody recebera nas ruas de Nova Iorque, ainda permanecia na sua alma e Deus o usou como seu instrumento para um avivamento mundial .

Não desejava métodos sensacionais, mas usou os mesmos métodos humildes até o fim da vida: sermão dirigido direto aos ouvintes; aplicação prática da mensagem do Evangelho à necessidade individual; solos cantados sob a unção do Espírito; apelo para que o perdido se entregasse imediatamente; uma sala no lado aonde levava os que se achavam em "dificuldades" em aceitar a Cristo; a obra que depois os salvos faziam entre os "interessados" e recém-convertidos; diariamente uma hora de oração ao meio-dia, e cultos que duravam dias inteiros.

Na Inglaterra, as cidades de York, Senderland, Bishop, Auckland, Carlisle e Newcastle foram vivificadas como nos dias de Whitefield e Wesley. Na Escócia, em Edimburgh, os cultos se realizaram no maior edifício e "a cidade inteira ficou comovida". Em Glasgow, a obra começou com uma reunião de professores da Escola Dominical, a que assistiram mais de 3.000. O culto de noite foi anunciado para às 6:30, mas muito antes da hora marcada, o grande edifício ficou repleto e a multidão que não pôde entrar foi levado para as quatro igrejas mais próximas. Essa série de cultos transformou radicalmente a vida diária do povo. Na última noite Sankey cantou para 7.000 pessoas que estavam dentro do edifício, e Moody, sem poder entrar no auditório, subiu numa carruagem e pregou a 20 mil pessoas que se achavam congregadas do lado de fora. O coral cantou os hinos de cima dum galpão. Em um só dia mais de 2.000 pessoas responderam ao apelo para se entregarem definitivamente a Cristo.

Na Irlanda, Moody pregou nos maiores centros com os mesmos resultados, como na Inglaterra e Escócia. Os cultos em Belfast continuaram durante quarenta dias. O último culto foi reservado para os recém-convertidos, que só podiam ter ingresso por meio de bilhetes, concedidos gratuitamente. Assistiram 2.300 pessoas. Belfast fora o centro de vários avivamentos, mas todos concordam em que nunca houvera um avivamento antes desse, de resultados tão permanentes.

Depois da campanha na Irlanda, Moody e Sankey voltaram à Inglaterra e dirigiram cultos inesquecíveis em Shefield, Manchester, Birgmingham e Liverpool. Durante muitos meses, os maiores edifícios dessas cidades ficaram superlotados de multidões desejosas de ouvirem a apresentação clara e ousada do Evangelho por um homem livre de todo o interesse e ostentação. O poder do Espírito se manifestou em todos os cultos produzindo resultados que permanecem até hoje.

O itinerário de Moody e Sankey na Europa, findou-se após quatro meses de cultos em Londres. Moody pregava alternadamente em quatro centros. Os seguintes algarismos nos servem para compreender algo da grandeza dessa obra durante os quatro meses: Realizaram-se 60 cultos em Agricultural Hall, aos quais um total de 720.000 pessoas assistiram; em Bow Road Hall, 60 cultos, aos quais 600.000 pessoas assistiram; em Camberwell Hall, 60 cultos, com assistência de 480.000; Haymarket Opera House, 60 cultos, 330.000; Vitória Hall, 45 cultos, 400.000 assistentes.

Quando Moody saiu dos Estados Unidos em 1873, era conhecido apenas em alguns Estados e tinha fama, apenas como obreiro da Escola Dominical e da Associação Cristã de Moços. Mas quando voltou da campanha na Inglaterra em 1875, era conhecido como o mais famoso pregador do mundo. Contudo continuou o mesmo humilde servo de Deus. Foi assim que uma pessoa que o conhecia intimamente descreve sua personalidade: "Creio que era a pessoa mais humilde que jamais conheci... Ele não fingia humildade. No íntimo do seu coração rebaixava-se a si mesmo e superestimava os outros. Ele engrandecia outros homens, e, sempre que possível arranjava para que eles pregassem. Fazia tudo para não aparecer".

Ao chegar novamente aos Estados Unidos, Moody recebeu convites, para pregar, de todas as partes do País. Sua primeira campanha (em Brooklyn) foi um modelo para todas as outras. As denominações cooperavam; alugaram um prédio que comportava 3.000 pessoas. O resultado foi uma grande e permanente obra.

Nas suas campanhas havia ocasiões que eram realmente dramáticas. Em Chicago, o Circo Forepaugh, com uma tenda de lona que tinha assentos para 10.000 pessoas e lugares para outras 10.000 em pé, anunciou representações para dois domingos. Moody alugou a tenda para os cultos de manhã, os donos resolveram não fazer sessão no segundo domingo. Entretanto, o culto realizou-se sob a lona no segundo domingo, o calor era tanto que dava a impressão de matar a todos, porém 18.000 pessoas ficaram em pé, banhados em suor e esquecidos do calor. No silêncio que reinava durante a pregação de Moody, o poder desceu e centenas foram salvos.

O doutor Dale disse: "Acerca do poder de Moody, acho difícil falar. É tão real e ao mesmo tempo tão diferente do poder dos demais pregadores, que não sei descrevê-lo. Sua realidade é inegável. Um homem que pode cativar o interesse de um auditório de três a seis mil pessoas, por meia hora, de manhã, por quarenta minutos, de novo, ao meio-dia e de um terceiro auditório, de 13 a 15 mil, durante quarenta minutos, à noite, deve ter um poder extraordinário".

Acerca desse poder maravilhoso, Torrey testificou: "Várias vezes tenho ouvido diversas pessoas dizerem que viajaram grandes distâncias para ver e ouvir D. L. Moody, e que ele, de fato, é um maravilhoso pregador. Sim, ele era em verdade o mais maravilhoso que eu jamais ouvi; era grande o privilégio de ouvi-lo pregar, como só ele sabia pregar. Contudo, conhecendo-o intimamente, quero testificar que Moody era maior como intercessor do que como pregador. Enfrentando obstáculos aparentemente invencíveis, ele sabia vencer todas as dificuldades. Sabia, e cria no mais profundo de sua alma, que não havia nada demasiadamente difícil para Deus fazer, e que a oração podia conseguir tudo que Deus pudesse realizar".

Apesar de Moody não ter instrução acadêmica, reconhecia o grande valor da educação e sempre aconselhava a mocidade a se preparar para manejar bem a Palavra de Deus. Reconhecia a grande vantagem da instrução também para os que pregam no poder do Espírito Santo. Ainda existem três grandes monumentos às suas convicções nesse ponto - as três escolas que ele fundou: O Instituto Bíblico em Chicago, com 38 prédios e 16.000 matriculados nas aulas diurnas, noturnas e Cursos por Correspondência; o Northfield Seminário, com 490 alunos, e a Escola do Monte Hermon, com 500 alunos.

Entretanto, ninguém se engane como alguns desses alunos e como diversos crentes entre nós, pensando que o grande poder de Moody era mais intelectual do que espiritual. Nesse ponto ele mesmo falava com ênfase: para maior clareza, citamos o seguinte de seus "Short Talks": "Não conheço coisa mais importante que a América precise do que de homens e mulheres inflamados como o fogo do Céu; nunca encontrei um homem (ou mulher) inflamado com o Espírito de Deus que fracassasse. Creio que isso seja impossível; tais pessoas nunca se sentem desanimadas. Avançam mais e mais e se animam mais e mais. Amados, se não tendes essa iluminação, resolvei adquiri-la, e orai: 'Ó Deus ilumina-me com o teu Espírito Santo'!"

No que R. A. Torrey escreveu aparece o espírito dessas escolas que fundou:

"Moody costumava escrever-me antes de iniciar uma nova campanha, dizendo: 'Pretendo dar início ao trabalho no lugar tal e em tal dia; peço-lhe que convoque os estudantes para um dia de jejum e oração'. Eu lia essas cartas aos estudantes e lhes dizia: Moody deseja que tenhamos um dia de jejum e oração para pedir, primeiramente, as bênçãos divinas sobre nossas próprias almas e nosso trabalho! Muitas vezes ficávamos ali na sala das aulas até alta noite - ou mesmo até a madrugada - clamando a Deus, porque Moody nos exortava a esperar até que recebêssemos a bênção".

"Até o dia da minha morte não poderei esquecer-me de 8 de julho de 1894. Era o último dia da Assembléia dos Estudantes de Northfield... Às 15 horas reunimo-nos em frente à casa da progenitora de Moody... Havia 456 pessoas em nossa companhia... Depois de andarmos alguns minutos, Moody achou que podíamos parar. Nós nos sentamos nos troncos de árvores caídas, em pedras, ou no chão. Moody então franqueou a palavra, dando licença para qualquer estudante expressar-se. Uns 75 deles, um após outro, levantaram-se, dizendo: 'Eu não pude esperar até às 15 horas, mas tenho estado sozinho com Deus desde o culto de manhã e creio que posso dizer que recebi o batismo com o Espírito Santo'. Ouvindo o testemunho desses jovens, Moody sugeriu o seguinte: 'Moços, por que não podemos ajoelhar-nos aqui, agora, e pedir que Deus manifeste em nós o poder do seu Espírito de um modo especial, como fez aos apóstolos no dia de Pentecostes?' E ali na montanha oramos".

"Na subida, tínhamos notado como se iam acumulando nuvens pesadas; no momento em que começamos a orar, principiou a chuva a cair sobre os grandes pinheiros e sobre nós. Porém houve uma outra qualidade de nuvem que há dez dias estava se acumulando sobre a cidade de Northfield - uma nuvem cheia da misericórdia, da graça e do poder divino, de sorte que naquela hora parecia que nossas orações bombardiavam essas nuvens, fazendo descer sobre nós, em grande poder, a virtude do Espírito Santo".

Que Moody mesmo era um estudante incansável, vê-se no seguinte:

"Todos os dias da sua vida, até o fim, segundo creio, ele se levantava muito cedo de manhã para meditar na Palavra de Deus. Costumava deixar sua cama às quatro horas da madrugada, mais ou menos, para estudar a Bíblia. Um dia ele me disse: 'Para estudar, preciso me levantar antes que as outras pessoas acordem'. Ele se fechava num quarto afastado do resto da família, sozinho com a sua Bíblia e com o seu Deus..."

"Pode-se falar em poder, porém, ai do homem que negligenciar o único Livro dado por Deus, que serve de instrumento, por meio do qual Ele dá e exerce seu poder. Um homem pode ler inúmeros livros e assistir a grandes convenções; pode promover reuniões de oração que durem noites inteiras, suplicando o poder do Espírito Santo, mas se tal homem não permanecer em contato íntimo e constante com o único Livro, a Bíblia, não lhe será concedido o poder. Se já tem alguma força não conseguirá mantê-la, senão pelo estudo diário, sério e intenso desse Livro".

Tudo no mundo tem de findar; chegou o tempo também para D. L. Moody findar o seu ministério aqui na terra. Em 16 de novembro de 1899, no meio de sua campanha em Kansas City, com auditórios de 15.000 pessoas, pregou seu último sermão. É provável que soubesse que seria o último: certo é que seu apelo era ungido como poder vindo do Alto e centenas de almas foram ganhas para Cristo.

Para a nação, a sexta-feira, 22 de dezembro de 1899, foi o dia mais curto do ano, mas para D. L. Moody, foi o dia que clareou, foi o começo do dia que nunca findará. Às seis horas da manhã dormiu um ligeiro sono. Então os seus queridos ouviram-no dizer em voz clara: "Se isto é a morte, não há nenhum vale. Isto é glorioso. Entrei pelas portas e vi as crianças! (Dois de seus netos que já tinham falecidos). A terra recua; o céu se abre perante mim. Deus está me chamando! "Então virou-se para a sua esposa, a quem ele queria mais do que a todas as pessoas, a não ser Cristo, e disse: "Tu tens sido para mim uma boa pessoa".

No singelo culto fúnebre, Torrey, Scofield, Sankey e outros falaram à grande multidão comovida que assistiu. Depois o ataúde foi levado pelos alunos da Escola Bíblica de Monte Hermom a um lugar alto que ficava próximo, chamado "Round Top". Três anos depois, a fiel serva de Deus, Ema Moody, sua esposa, também dormiu em Cristo e foi enterrada ao lado do marido, no mesmo alto, onde permanecerão até o glorioso dia da ressurreição.                            

CHARLES G. FINNEY (1792-1875)

Um ensino proferido por Finney, o qual foi sua base de vida:
“Passe muito tempo, diariamente pela manhã e à noite, em oração e comunhão direta com Deus. Não há conhecimento que compense a perda dessa comunhão. Se falhares nisto te enfraquecerás e serás como qualquer outro homem.”


Finney nasceu de uma família não cristã e se criou num lugar onde os membros da igreja conheciam apenas a formalidade fria dos cultos. Tornou-se um advogado que, ao encontrar nos seus livros de jurisprudência muitas citações da Bíblia, comprou ume exemplar com a intenção de conhecer as Escrituras.

Ele descreve:

“Ao ler a Bíblia, ao assistir às reuniões de oração, e ouvir os sermões do senhor Galé, percebi que não me achava pronto a entrar nos céus... Fiquei impressionado especialmente com o fato de as orações dos crentes, semana após semana, não serem respondidas. Li na Bíblia “pedi e dar-se-vos-á”. Li, também, que Deus é mais pronto a dar o Espírito Santo aos que lho pedirem, do que os pais terrestres a darem boas coisas aos filhos. Ouvia os crentes pedirem um derramamento do Espírito Santo e confessarem, depois, que não o receberam. Exortavam uns aos outros a se despertarem para pedir, em oração, um derramamento do Espírito de Deus e afirmavam que assim haveria um avivamento com a conversão de pecadores... Foi num domingo de 1821 que assentei no coração resolver o problema sobre a salvação da minha alma e ter paz com Deus. (...) Fui vencido pela convicção do grande pecado de eu envergonhar-me se alguém me encontrasse de joelhos perante Deus, e bradei em alta voz que não abandonaria o lugar, nem que todos os homens da terra e todos os demônios do inferno me cercassem. O pecado parecia-me horrendo, infinito. Fiquei quebrantado até o pó perante o Senhor. Nessa altura, a seguinte passagem me iluminou: 'Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei'. E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração”.

As lutas íntimas e o chamado para o ministério:

'Lendo a Bíblia vi como Cristo se pronunciava sobre a oração e muito especialmente sobre respostas certas às mesmas'. Ele dizia: "pedi e dar-se-vos-á e aquele que busca, acha aquele que bate abrir-se-lhe-á". Li também sobre como Deus estaria numa grande pré-disposição de os atender e de dar o Seu Espírito Santo a quem O pedisse, mais do que os pais daqui do mundo estariam na disposição de dar algo a seus próprios filhos. Ouvia-os orar continuamente para que fosse derramado o Espírito Santo e variadíssimas vezes a confessarem abertamente que nada demais se passaria, pois não recebiam tudo aquilo que pediam. Exortavam-se uns aos outros para se manterem despertos e na expectativa da Sua vinda, orando sempre para que houvesse um avivamento religioso, assegurando mutuamente que, se cada um cumprisse a sua parte, orando pelo Espírito e fossem sérios e sinceros no pedido, estariam na eminência de obterem o tal avivamento que iria converter muitos impenitentes e pecadores. Mas nas suas muitas orações e reuniões, alegavam continuamente que nenhum progresso alcançavam através daquelas orações, a favor de assegurarem o próprio progresso da religião.

Aquela inconsistência absurda de nunca receberem aquilo que tanto pediam, era um sério tropeço para mim. Não sabia o que entender daquilo. A questão que se punham na minha mente seria se aquelas muitas pessoas seriam de fato crentes e que se não sendo não tinham como prevalecer diante Deus, ou se eu estaria a entender muito mal as promessas que vinham na Bíblia vezes sem conta. Estaria a Bíblia a falar a verdade? Era algo inexplicável para mim. Por pouco tal ocorrência não me levou ao cepticismo.

Numa ocasião, quando freqüentava a dita reunião de oração, Perguntaram-me se desejaria que orassem por mim. Respondi-lhes de imediato que não, porque, disse-lhes, não via Deus a responder qualquer das suas orações. Disse: "Por acaso sou uma pessoa necessitada de oração, porque tenho consciência em mim que sou um pecador; mas não vejo que as vossas orações possam resolver o meu problema, pois vocês não estão a ser ouvidos; se o caso se desse das vossas orações serem ouvidas, não me importaria nada que orassem por mim. É que estão há tanto tempo a orar para que desça o Espírito Santo e nada recebem! Desde que cheguei a Adams que pedem isso e não há maneira de ver qualquer resposta concreta; apenas vos vejo a lamentarem-se que não recebem". Recordo-me de haver usado uma forma de expressão na altura mais ou menos assim: "Já oraram tanto desde que freqüento as vossas reuniões que já bastaria para expulsar o diabo por inteiro daqui de Adams, se houvesse qualquer essência de virtude em qualquer das vossas orações! Mas mesmo assim, vocês continuam a orar sobre a mesmíssima coisa e só vos ouço lamentarem-se sempre por nunca receberem" Eu falava com muita seriedade de expressão sem qualquer fragrância de irritabilidade, devendo-se provavelmente ao fato de me haver confrontado continuamente com aquela questão da religião. Este era um estado de coisas deveras novo para a minha experiência. Mas lendo a Bíblia com mais diligencia, pude verificar que as suas orações nunca seriam ouvidas porque eles nunca se haviam comprometido com as condições sob as quais Deus se comprometera a responder às orações deles. Foi como que uma revelação para mim, pois via-se claramente que não esperavam que Deus respondesse, que lhes desse aquilo por que pediam.

Da primeira vez que recebi a convicção que era essa a vontade de Deus, aquele pensamento que se alguma vez houvesse como me converter eu iria pregar o evangelho, percebi que teria de abandonar a minha profissão que muito amara até ali. No princípio fez-me hesitar, servindo-me mesmo como tropeço. Pensei que havia despendido tanto esforço naquela profissão, nos estudos, tanto tempo que, tornar-me crente, obrigar-me-ia a abandonar tudo para ir pregar o evangelho. Mas assim que coloquei a questão a Deus em pessoa, aquele pensamento que se alguma vez me chegasse a converter me entregaria à pregação do evangelho, pensei e vi que quando decidi ir estudar direito nunca havia sido uma resolução a qual houvesse levado em consideração a opinião de Deus, daí que não me sentisse no direito de impor condições de qualquer gênero ao meu Criador. Não mais havia dado atenção àquela questão de me tornar num ministro da Palavra até me haver ocorrido o que aqui descrevi antes, a caminho do bosque.

Mas, depois de haver sido coroado com aqueles poderosos batismos do Espírito, toda a minha vontade se tornou cativa daquele desejo de ir pregar aos outros. Logo descobri que nada mais no mundo era meu desejo. Não tinha mais nenhuma réstia de vontade em persistir na advocacia e partir daquele momento nunca mais me recordo de sentir qualquer vontade de voltar ao meu anterior ofício. Não tinha qualquer ambição de obter riqueza, não tinha qualquer fome de qualquer prazer deste mundo, tudo se resumia àquela vontade de Deus dentro de mim. Nenhuma inclinação havia em sentido contrário. Toda a minha mente ficou absorvida pela grande questão de Jesus e a Sua grande salvação. O mundo me parecia algo prestes a morrer, sem conseqüência sobre a minha vontade sequer. Nada, parecia-me, podia rivalizar com a salvação de almas; nenhum labor poderia ser tão doce de pensamento, nenhum ofício mais exaltado haveria, do que aquele que se pôs diante de mim de elevar Cristo bem alto diante dum mundo em vias de se extinguir para sempre.

Sob total influencia desta impressão profunda causada em mim, saí de vez do escritório com a clara intenção de pregar a quem quer que achasse. Falei com uma imensidão de gente só naquele dia e acho mesmo que o Espírito de Deus conseguiu impressionar e marcar seus espíritos para sempre. Não consigo recordar de alguém com quem falei naquele dia, que não se haja convertido em breve trecho”.

A conversão de Finney e o seu revestimento do poder do Espírito Santo, contados em sua biografia, são impressionantes. O amor a Deus, a fome de sua Palavra, a unção para testemunhar e anunciar do Evangelho vieram sobre ele no dia de sua entrega a Jesus. Imediatamente, o advogado perdeu todo o gosto pela sua profissão e tornou-se um dos mais famosos pregadores do Evangelho. Eis o segredo dos grandes pregadores, nas palavras do próprio Finney: Os meios empregados eram simplesmente pregação, cultos de oração, muita oração em secreto, intensivo evangelismo pessoal e cultos para a instrução dos interessados. Eu tinha o costume de passar muito tempo orando; acho que, às vezes, orava realmente sem cessar. Achei, também, grande proveito em observar freqüentemente dias inteiros de jejum em secreto. Em tais dias, para ficar inteiramente sozinho com Deus, eu entrava na mata, ou me fechava dentro de algum lugar.

Conta-se acerca deste pregador que depois de ele pregar em Governeur, no Estado de New York, não houve baile nem representação de teatro na cidade durante seis anos. Calcula-se que somente durante os anos de 1857 e 1858, mais de 100 mil pessoas foram ganhas para Cristo pelo ministério de Finney. Na Inglaterra, durante nove meses de evangelização, multidões também se prostraram diante do Senhor enquanto Finney pregava.

Descobriu-se que mais de 85 pessoas de cada 100 que se convertiam sob a pregação de Finney permaneciam fiéis a Deus; Parece que Finney tinha o poder de impressionar a consciência dos homens sobre a necessidade de um viver santo, de tal maneira que produzia fruto mais permanente.

Veja alguns conselhos que Finney deu para quem prega o evangelho:

 Pregue a Palavra constrangido pelo amor.
 Seja revestido do poder do Espírito Santo.
 Mantenha uma comunhão íntima com Deus.
 Tenha uma profunda vida de meditação na Palavra de Deus.
 Não dependa dos comentários, ouça-os, porém busque o veredicto de Deus.
 Guarda-te puro em atos e atitudes.
 Recusa-te a diminuir a intensidade desta obra. Seja constante e diligente.
 Creia na promessa de Jesus: “Estarei convosco todos os dias”.
 Livra-te de hábitos que possam produzir tropeço aos homens.
 Não sejas leviano. Põe o Senhor a frente de ti em todos os momentos.
 Fuja de conversas frívolas e sem proveito. Controla tua língua.
 Resolva a “nada saber” entre teu povo “senão a Jesus e este crucificado”.
 Ensine por preceito e por exemplo.
 Vigie em teus pontos fracos.
 Seja simples, sério e de correto procedimento cristão.
 Gaste muitas horas diárias na oração e na Palavra. Se falhares nisto serás um homem como outro qualquer.
 Fuja de ensinar por sabedoria humana. Busque a orientação direta do Espírito Santo.
 Pregue com base em sua própria experiência e não por ter ouvido falar.
 Deixe o povo compreender que temes muito a Deus para temê-los.
 Não seja refém da popularidade e do salário. Declare todo o conselho de Deus, quer ouçam, quer deixem de ouvir.
 Não bajule os ricos.
 Fuja das vaidades.
 Não fique calado ao ver o pecado no meio do teu povo.
 Por mais que sejam voluntários, não aceite sustento da obra por homens não comprometidos com Deus.                                                                                                                      


Irmão Yun (1958 - ....)

Quando recebemos a indicação do livro “O Homem do Céu”, publicado pela Editora Betânia, não podíamos imaginar o impacto que ele teria em nossas vidas. Foi tão abençoador que demos a muitas pessoas um exemplar dele. Nele podemos observar que o livro de Atos continua sendo escrito pelos verdadeiros cristãos, que não abriram mão das verdades irrevogáveis do Evangelho de Jesus, e prosseguem vivendo e pregando a mensagem da cruz. O Irmão Yun é um desses, vivendo exclusivamente para servir a Jesus, escapou milagrosamente das mãos do governo comunista chinês, em 2001, após sofrer barbaridades por seu amor a Cristo. Este livro é um relato de um verdadeiro cristianismo. 

Homem do Céu 

Na China ainda prevalece ameaças e brutalidades do governo contra todos os cristãos que não acatam a “Igreja dos três poderes”, um fantoche controlado pelo governo, através de líderes corruptos e amantes do poder. Nela é proibido ensinar a Bíblia para as crianças, pregar sobre a volta de Jesus, anunciar Cristo aos homens, o livro de Apocalipse é banido, muitas textos da Bíblia são proibidos, dentre outros absurdos aceitos por seus líderes. 

O irmão Yun é conhecido em toda a China como o homem do Céu, por causa de um incidente acontecido em 1984, quando se recusou a revelar sua identidade para não colocar em risco outros cristãos. Ao ser preso, em vez de dizer seu nome e endereço, fato que permitiria identificar outros cristãos, ele esbravejava: “Sou um homem do céu ! Meu lar é o céu!”. Os cristãos reunidos em casas próximas, ouviram os gritos e perceberam que era uma alerta para fugirem, para não serem presos por causa do “crime” de servir a Jesus. O irmão Yun sofreu terríveis violências e prisões, mas o Senhor prosperou a sua palavra e tem resgatado milhões de chineses das trevas. As igrejas domésticas na China, perseguida brutalmente pelo governo, continua desafiando o poder das trevas, pois já somam mais de 80 milhões de irmãos. 

Nascimento e infância 

Ele nasceu em 1958, na província de Henan, China. De um lar extremamente pobre e filho de um pai de temperamento violento, viu a situação de seu lar piorar quando inimigos acusaram seu pai perante a Guarda Vermelha (Polícia do governo comunista chinês), sendo este espancado e torturado várias vezes e até quase a morte, pela acusação de ser contra a política do governo. 

Como a Bíblia era proibida e pregar o evangelho era um crime contra o estado, uma experiência com Cristo só poderia acontecer de uma forma extremamente sobrenatural. Mas foi exatamente assim que aconteceu com sua mãe, ao ouvir certa vez uma voz compassiva e carinhosa sobre o amor de Jesus. O seu curto entendimento não impediu que ela conduzisse sua família a crer que somente Jesus era a esperança para salvar da morte seu marido que estava à beira da morte. 

O irmão Yun bradava “Jesus, cura o Papai”. O Senhor operou um milagre e restabeleceu sua saúde. O Senhor entrou na história da família de Yun, quando sua mãe passou a pregar o evangelho e a reunir irmãos em sua casa, algo considerado crime de traição ao governo comunista. 

A Bíblia 

Yun quase enlouqueceu por uma Bíblia. Nunca tinha sequer visto uma, era crime possuí-la. Não conhecia nada das escrituras. Sua mãe além de não conhecer também nada, era analfabeta, tudo que fazia era por absoluta revelação do Espírito Santo. Passou a orar freneticamente pedindo uma Bíblia, passando momentos longos de jejum. Seus pais pensaram que ele estava enlouquecendo. Após três meses de oração, um dia, às 4 horas da madrugada, quando Yun estava orando, teve uma visão: 

“Na visão eu subia uma colina íngreme, tentando empurrar um carrinho pesado ... Nesse momento vi três homens descendo a colina na minha direção ... Um deles empurrava um carrinho cheio de pães...e perguntou-me: ‘- Você está com fome?’ Sim... E eu chorei , pois minha família era extramamente pobre e tínhamos perdido tudo por causa da doença do papai ... vivíamos de ajuda dos outros. Ele pegou um pacote contendo pães e disse: ‘- Coma imediatamente’. O pacote imediatamente virou uma Bíblia. Logo acordei e passei a procurar a Bíblia, e ao descobri que tinha sido só um sonho, comecei a chorar incontroladamente. Meu pai me segurou com força e bradou: ‘- Senhor, tem misericórdia do meu filho. Não permitas que ele enlouqueça.’ De repente alguém bateu a porta e chamou por mim ... eu corri e perguntei se ele estava trazendo pão para mim ... o homem respondeu: ‘- Temos um banquete para você’. Abri a porta e vi que era o mesmo homem do sonho, com um pacote vermelho, tendo uma Bíblia dentro. Os dois logo se foram. Mais tarde descobri que era de um servo do Senhor que tinha sofrido violentamente nas mãos governo por causa de sua fé em Jesus ... ele teve uma visão que deveria dar uma Bíblia para um jovem em uma vila distante. 

Um evangelista começa a carreira aos 16 anos 

Como carregar a Bíblia poderia lhe causar a morte, o irmão Yun passou a decorá-la. Rapidamente memorizou os evangelhos. Tinha apenas 16 anos, quando o Senhor expressamente começou a lhe enviar a lugares diversos para pregar o evangelho. Na primeira vez, quando o Senhor lhe falou sobre uma vila próxima, quando ele estava na madrugara orando e decorando o livro de Atos, logo pela manhã encontrou um homem desconhecido que lhe disse: ‘Recebi a incumbência de levá-lo rumo ao oeste, até a Vila Gao, para você falar do evangelho. Estamos em jejum e oração há três dias por isto.’ Yun prontamente foi lá e teve sua primeira experiência de ser um “criminoso”, ao pregar o evangelho: 

“Entramos numa casa com 40 pessoas. Assentei-me no chão e os demais se apertaram a minha volta. Eu estava nervoso, porque eu nunca tinha falado para um grupo ... Fiquei assentado , com os olhos bem fechados e segurei a Bíblia acima da cabeça. Então disse: ‘Esta é a Bíblia ... um anjo do Senhor a mandou. Se quiserem uma terão de orar e buscar a Deus como eu fiz’. Eu não sabia como pregar, só sabia recitar os versículos que decorei. Por isto recitei todo o evangelho de Mateus, sem saber se estavam entendendo algo ... Estava cheio do Espírito Santo, cantava alguns cânticos da escritura .... músicas que eu não conhecia. Ao abrir os olhos todos estavam ajoelhados e chorando de arrependimento". 

Toda sua família foi alcançada 

“Sou grato a Deus porque ele salvou toda a minha família. Meu pai partiu para o Céu anos depois de ser curado milagrosamente de um câncer. Sofri e me alegrei ao mesmo tempo, pois o Senhor o resgatou. Deus usou a enfermidade de meu pai para levar nossa família ao pé da cruz. Minha mãe adorava a Deus noite e dia em jejuns e orações. O Senhor me deu uma esposa virtuosa, Delling. Disse a Ela: ‘- Deus me escolheu para ser testemunha Dele e seguí-lo através de dificuldades imensas, no caminho da cruz. Não tenho dinheiro e estou sendo perseguido pela polícia. Você quer mesmo casar comigo?’ Ela respondeu: ‘Nunca te abandonarei. Vamos nos unir e serviremos juntos ao Senhor.’ Quando fomos ao cartório para o casamento, fui identificado como criminoso contra o estado e fui preso. Mesmo assim, Delling não desistiu". 

Foragido 

Após o casamento, Yun foi preso novamente e por um milagre tremendo do Senhor, conseguiu escapar das mãos das autoridades, que o espancavam brutalmente. Passou então a ser considerado um foragido e tendo sua foto espalhada por diversas províncias, com o titulo de ser ‘um perigoso criminoso’. 

“No inverno de 1978, começamos a batizar os convertidos. A única maneira segura era cortar um buraco no rio congelado, à noite, e batiza-los nas águas gélidas, enquanto os policiais dormiam. Multidões se convertiam todos os dias.” Havia muitas conversões milagrosas, como em regiões remotas e de difícil acesso, pessoas tinham experiências de pregação do próprio Senhor Jesus. 

A situação de Yun piorou quando ele acusou diretamente alguns líderes da ‘Igreja dos três poderes’ de falsificadores da Palavra de Deus. Além de perseguido pelo governo, passou a ser caçado pela liderança da ‘Igreja dos três poderes’. Por várias vezes Yun relata fugas milagrosas das mãos de policiais cruéis. O livro é recheado de histórias que nos fazem lembrar as experiências de Paulo e de Pedro, no livro de Atos. 

A lição da prisão 

Finalmente preso e tremendamente espancado pela polícia, lhe foi prometido a liberdade se ele entregasse os líderes das igrejas domésticas. Condenado a 17 anos de cadeia, passou por sofrimentos inimagináveis. Os policiais foram instruídos a tratar mal todos os presos de sua cela, para que estes se revoltassem contra Yun. Não demorou para que fosse odiado por todos, que o passaram a espancar, jogar urina e fezes em seu rosto e roupas. Ainda havia o espancamento sofrido por policiais, tais como choques elétricos dentro da boca e outras torturas insuportáveis, como introdução de agulhas grandes entre suas unhas, enquanto policiais pisavam em suas mãos e pés, além de urinarem em seu rosto. Tudo tinha como objetivo que ele entregasse os outros irmãos para serem presos, em troca de sua liberdade. 

Yun começou um jejum absoluto que durou 74 dias: sem água e comida. Passou a pesar menos de 30 quilos e continuou sendo torturado violentamente por presos e policiais. “Durante o jejum, embora meu corpo estivesse muito fraco, meu espírito se achava alerta e continuei confiando no Senhor.” Mas, o Senhor operou um tremendo milagre, quando todas as pessoas da sua cela foram tocadas pelo poder do evangelho e se converteram a Cristo. Yun teve os ossos de suas pernas esmigalhados a golpes de cassetetes, mesmo assim o Senhor operou um milagre, não só restaurando seus ossos, mas levando-o para fora da prisão, tal como aconteceu com Pedro e João no livro de Atos. As portas foram abertas e ninguém o via, até que ganhou o lado externo do complexo penitenciário. 

Após uma breve abertura política na China, Yun pôde pregar o evangelho com mais liberdade, fase em que o impacto da obra que Deus iniciou através dele e outros irmãos causaram enorme impacto em toda China. Mas, a brutalidade do regime reacendeu e as igrejas domésticas voltaram a ser duramente perseguidas, com assassinatos, prisões e torturas de todo tipo. Yun conseguiu fugir milagrosamente da China em 2001, escapando da morte, em mais uma notável intervenção divina. Este irmão continua completamente voltado para a obra que o Senhor chama a todos os cristãos : anunciar a Cristo e seu evangelho. Após contatos com cristãos ocidentais, o Irmão Yun observou: “No ocidente vejo templos belíssimos e equipamentos caros. Posso afirmar que não é preciso construir mais nada, pois os bens materiais não produzirão a vida do Senhor. A igreja ocidental precisa voltar à palavra do Senhor, pois ela tem faltado. Não é necessário simplesmente o conhecimento da palavra, mas a completa obediência a ela.” 

Hoje ele trabalha com uma missão chamada “Back to Jerusalém”, voltada a envio de missionários a países que perseguem duramente os cristãos, notadamente nos países mulçumanos. 

No site Mídia Sem Máscaras, temos um importante relato sobre a perseguição às igrejas domésticas na China e a falsidade da “Igreja dos três poderes”, controlada pelo governo. Leia abaixo reprodução de uma parte: 

O Lugar do MPTA (Igreja do Três Poderes) 

A constituição da China declara que os cidadãos chineses gozam de liberdade religiosa. Esta liberdade não inclui, porém, o direito de propagação fora dos locais estabelecidos para atividades religiosas, nem o direito de estabelecer igrejas de acordo com a convicção religiosa de cada um. Após o colapso da União Soviética e dos países comunistas do Leste Europeu, o partido comunista chinês deu início a uma política restrita de controle, implementando diversos sistemas em nome de “tornar a religião compatível com a sociedade socialista” (Diário Popular, 14 de março de 1996). Segundo o entendimento de um funcionário da Secretaria de Assuntos Religiosos (SAR), “compatível” significa que a religião é subordinada ao socialismo (Zong Djiao Gong Zuo Tong Csun, março de 1996, p.31). (A SAR é o órgão do governo encarregado de todas as organizações patrióticas religiosas, através das quais o partido comunista executa a sua política religiosa.) Significa dizer que algumas doutrinas e ensinos éticos religiosos devem ser usados na promoção da construção socialista depois de as religiões terem sido reformadas: Todos os elementos negativos são eliminados e toda religião está disposta a se colocar debaixo da direção do partido comunista chinês. Falando de maneira mais concreta, o resultado de tal compatibilidade com o socialismo é que somente determinados profissionais religiosos “patrióticos” (com certificados de pregador conferidos pelo partido comunista chinês) terão permissão para ensinar os ideais de amor e espírito sacrificial, em vez de pregar os ensinos da Bíblia sobre a Grande Comissão, a Redenção, os Últimos Dias e a guerra espiritual. O governo chinês acredita que a única esfera para a ação cristã protestante é o Movimento Patriótico da Tríplice Autonomia, uma das “organizações patrióticas”. O Movimento Reformista da Tríplice Autonomia foi estabelecido pelo Estado em 1950 e formalmente organizado como o Movimento Patriótico da Tríplice Autonomia em 1954 (MPTA). Sua função é ajudar o governo a implementar a política religiosa. O MPTA se reporta à Secretaria de Assuntos Religiosos, que aprova registros, indicação de funcionários pastorais, treinamento de líderes e vigilância financeira. Por exemplo, numa igreja do MPTA, quando o pastor ficou doente, a Secretaria de Assuntos Religiosos aprovou um não cristão, um ateu, para pregar no lugar dele. O pastor não pode voltar a pregar enquanto o seu substituto estiver pregando. Quando ele estiver bem e apto a pregar novamente, seu substituto deixa de pregar. 

O Lugar das Igrejas Domiciliares 

Igrejas-domiciliares que se desenvolveram através do evangelismo itinerante ou do crescimento espontâneo da igreja são consideradas ilegais e obrigadas a se registrar na SAR. Um dos requisitos para o registro é ter um líder pastoral aprovado pelo MPTA, que, por sua vez, precisa pegar a aprovação da SAR. Outros requisitos incluem um determinado número de membros, a organização de um conselho da igreja e uma razão convincente de que a igreja é necessária. Normalmente, quando uma igreja-domiciliar se registra na SAR, ela precisa se afiliar ao MPTA. Apesar da declaração de um funcionário da SAR de que a igreja não é obrigada a se filiar ao MPTA ao se registrar, não é o que realmente acontece. Se a igreja-domiciliar não se registrar na SAR nem se filiar ao MPTA, seus líderes são avisados das conseqüências. Se eles se recusam a obedecer, são proibidos de continuar realizando os seus cultos, seus líderes são presos e enviados para campos de trabalhos forçados ou, em alguns casos, são multadas. Em 1996 e 1997, vários líderes da igreja foram presos porque se recusaram a se registrar e filiar ao MPTA. O caso mais conhecido é de Csu Yongtsé, preso desde 16 de março de 1997, e sentenciado a 10 anos de prisão em outubro do ano passado. Outro caso, que não recebeu tanta publicidade, é o de Yan Defeng, líder de uma igreja-domiciliar no município de Heshui, Província de Gansu. Agentes da Secretaria de Segurança Pública molestaram Yan durante mais de quatro anos. Da primeira vez que foi preso, em junho de 1995, acorrentaram-no a um cano de aquecimento e o forçaram a revelar os nomes dos membros de sua igreja-domiciliar. Na tarde do Domingo de Páscoa de 1997, a polícia da SSP invadiu abruptamente a casa de Yan, quando ele e mais dezoito cristãos celebravam o culto. Os agentes da SSP confiscaram Bíblias, hinários e outros materiais cristãos e levaram quatorze crentes para a cadeia. Sete ficaram detidos por seis horas e depois foram liberados. Os outros cinco só foram liberados depois de pagar uma multa. O irmão de Yan, Dehui, ficou detido por quinze dias. Yan pegou 53 dias de detenção sem julgamento nem qualquer explicação. 

Por Que as Igrejas-Domiciliares Não Querem Se Registrar Nem Se Filiar ao MPTA 

A inimizade entre as igrejas-domiciliares e o MPTA está profundamente enraizada na história da igreja da China desde 1950. Durante a década de 50, os cristãos puderam testemunhar como o governo se utilizou do MPTA para destruir tanto a igreja institucional estabelecida pelas missões ocidentais como as igrejas nacionais fundadas pelos crentes chineses. Durante a reforma pastoral do Movimento Grande Salto Para o Futuro, os pastores que não se dobraram ao autoritarismo do estado foram aprisionados - alguns por décadas. Muitos foram presos durante este período graças à traição de pastores do MPTA. Atualmente, em muitos casos, pastores do MPTA agem como informantes do governo infiltrados nas igrejas-domiciliares, colaborando para a prisão de líderes e outros membros. Para as igrejas-domiciliares, portanto, o MPTA não passa de uma agência do governo. Os líderes das igrejas-domiciliares não aceitam o MPTA nem o CCC (Conselho Cristão da China) como representantes autênticos da igreja chinesa. Conseqüentemente, é difícil para eles se reconciliar com os seus traidores que continuam a traí-los. 

Em segundo lugar, ao se registrar com o governo e se filiar ao MPTA, a igreja passa a ter as atividades limitadas ao culto de domingo. Até as reuniões de oração das quartas-feiras e as reuniões nos lares são proibidas. O pastor de igreja do MPTA é obrigado aplicar esta exigência ao seu próprio rebanho, o que, para um pastor evangélico, é uma coisa muito difícil. No coração, ele quer que sua igreja cresça e que as pessoas tenham os seus grupos de estudos bíblicos. Uma vez afiliado ao MPTA, ele perde a liberdade de pastorear o seu rebanho segundo a direção do Espírito Santo. Por isso, ele prefere correr o risco de ser preso a perder a liberdade espiritual. 

Terceiro, depois que se registra e se filia ao MPTA, a igreja não pode mais evangelizar nem designar outros locais de culto fora dos seus limites físicos. Mas as igrejas-domiciliares estão comprometidas com o evangelismo e desenvolveram sistemas bem sofisticados de treinamento de evangelistas itinerantes e o se conseqüente envio às províncias fronteiriças e vizinhas aonde o evangelho ainda não foi pregado. Se elas se filiam ao MPTA, são obrigadas a desistir do evangelismo, que é a parte mais importante do seu cristianismo. Portanto, a questão que fica é: evangelizar ou não evangelizar? As leis da terra são claramente contra a expansão da igreja através do evangelismo. Os membros da igreja-domiciliar chinesa crêem que o seu dever é se esforçar pelo cumprimento da Grande Comissão. Na questão do evangelismo, portanto, eles preferem obedecer a Deus e não aos homens (Atos 5:29). 

Finalmente, a razão mais importante por que as igrejas-domiciliares se recusam a se registrar e se filiar ao MPTA é a sua crença no Senhorio de Cristo sobre a igreja. “Quem é o cabeça da igreja: Cristo ou o estado?”, perguntam eles. Para MPTA o estado é a suprema autoridade nos assuntos da igreja. As igrejas-domiciliares estão determinadas a obedecer a Cristo, mesmo que esta obediência lhes traga sofrimento, porque eles preferem “trilhar na vereda cruz” a obedecer a um poder estatal ateu que procura impedi-los de servir a Cristo. Estes bravos crentes passaram a esperar perseguição, porque são discípulos de Cristo e não de Mao nem dos líderes do partido comunista chinês. Eles sabem que, assim como ao apóstolo Paulo, lhes “foi dado o privilégio de não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele” (Filipenses 1:29,30). Por que os nossos irmãos e irmãs chineses suportam tamanha agonia sem qualquer vislumbre de solução ou salvação física? Eles sabem que vão vencer no fim, como a anciã chinesa sobre quem noticiamos no ano passado, que todas as manhãs era obrigada a se perfilar do lado de fora da sua cela. Em vez de gritar com as demais prisioneiras, “Comunismo é bom!”, ela gritava: “Jesus é melhor!” E era, então, obrigada a fazer flexões de braço como castigo. Milhões de crentes chineses vitoriosos proclamam: “Jesus é melhor!”.                      

John Hyde (1865-1912)

“O Apostolo de Oração”

Uma palavra muitas vezes repetida por John Hyde:

“Quando nos mantemos perto de Jesus, é ele quem atrai as almas a si mesmo através de nós, mas é necessário que ele seja levantado na nossa vida: isto é, temos de ser crucificados com ele. Em alguma forma, é o ‘EU’ que se levanta entre nós e ele, e por isso o ‘EU’ precisa ser tratado como ele foi. O ‘EU’ precisa ser crucificado. Somente então Cristo será levantado na nossa vida, e ele não pode deixar de atrair almas a si mesmo. Tudo isso é resultado de união e comunhão íntimas, ou seja, comunhão com ele nos seus sofrimentos.”


1ª. Parte
Testemunho de seu amigo J. Pengwern Jones
Extraído de `Praying Hyde´ (O Homem Que Orava), compilado por Captain E. G. Carré.


“John Hyde foi grandemente usado para abençoar minha vida. Já havia lido aquele precioso livro de Andrew Murray, `Com Cristo na Escola de Oração´, e pude ver neste homem um exemplo vivo de alguém que estava de fato com Cristo na sua escola de oração. Seu exemplo deu-me um profundo anseio e também inspiração para me matricular como aluno nesta escola...

Jesus, nosso grande Sumo Sacerdote, deseja `companheiros´, `colegas´, `participantes´, para entrarem junto com ele no santuário como intercessores. O sumo sacerdote dos tempos antigos tinha de entrar no Santo dos Santos sozinho, mas nosso Sumo Sacerdote suplica para que haja companheiros para estarem ao seu lado. Hyde era exatamente isto, e parece-me estranho que tenhamos tanta relutância em assumir este tremendo privilégio de ser `co-intercessores´ junto com ele...

A primeira vez que encontrei John Hyde foi em Ludhiana, no Punjab (na Índia), onde ele morava na época. Eu fora convidado para falar algumas palavras sobre o avivamento na região dos montes Khassia, na Índia, para a Conferência de uma missão, que estava realizando sua assembléia anual nesta época. Viajei a noite toda, saindo de Allahabad e chegando em Ludhiana de madrugada. Levaram-me para tomar chá junto com os participantes do congresso, e com os demais que estavam lá. Fui apresentado a Hyde que estava do lado oposto da mesa. Tudo que disse a mim foi: `Quero falar com você. Estarei esperando perto da porta.´

Lá estava ele me esperando, e suas primeiras palavras foram: `Venha comigo à sala de oração. Queremos você lá.´ Eu não sabia se era um pedido ou uma ordem. Sentia que tinha de ir. Falei com ele que havia viajado a noite toda, que estava cansado, e que teria de falar às quatro da tarde, mas acompanhei-o assim mesmo. Encontramos meia dúzia de pessoas ali, e Hyde se colocou de rosto em terra diante do Senhor. Ajoelhei-me, e uma estranha sensação começou a tomar conta de mim. Algumas pessoas oraram, e depois Hyde começou a orar, e a partir daí não me recordo de muita coisa. Eu sabia que estava na presença do próprio Deus, e não tinha nenhum desejo de sair daquele lugar. Na verdade, acho que nem pensei de mim mesmo ou do lugar onde estava, pois havia entrado em um outro mundo e queria permanecer ali.

Entramos naquela sala por volta das oito horas da manhã. Várias pessoas entraram e outras saíram depois disso, mas Hyde ficou prostrado de rosto em terra, e dirigiu o grupo em oração várias vezes. As refeições foram esquecidas, e minha sensação de cansaço evaporou. O relatório do avivamento e a mensagem que deveria entregar, que estavam me causando tanta ansiedade, saíram totalmente da minha mente, até umas três e meia da tarde, quando Hyde se levantou. Percebi então que estávamos sozinhos na sala de oração.

`Você vai falar às quatro horas,´ ele disse para mim. `Vou levá-lo para tomar uma xícara de chá.´ Respondi que certamente ele também precisava comer alguma coisa, mas ele disse: `Não, não quero nada, mas você precisa de alguma coisa.´ Passamos rapidamente no meu quarto, e nos lavamos apressadamente, e em seguida tomamos uma xícara de chá cada um. Então já estava na hora da reunião.

Ele me levou até a porta, tomou minha mão e disse: `Entre e fale. Esta é a sua tarefa. Voltarei à sala de oração para orar por você. Este é o meu trabalho. Quando acabar o culto, venha para a sala de oração outra vez, e louvaremos a Deus juntos.´ Que sensação, semelhante a um choque elétrico, passou por mim quando nos separamos ali. Foi fácil falar, mesmo através de um intérprete. O que eu disse, não sei. Antes de terminar, porém, o intérprete indiano, sobremodo comovido pelos seus sentimentos e pelo Espírito de Deus, não conseguiu continuar, e teve de ser substituído.

Sei que o Senhor falou naquela noite. Falou comigo, e falou com muitos outros. Reconheci o Poder da Oração. Foi assim que reconheci o poder da oração. Quantas vezes já havia lido de bênçãos em resposta a oração, mas isto me impactou de tal maneira naquela noite que desde então procuro alistar guerreiros de oração para orar por mim todas as vezes que tenho de entregar uma mensagem de Deus. Foi uma das reuniões mais maravilhosas que já tive o privilégio de experimentar, e sei que foi resultado do santo guerreiro de oração que estava lá por trás dos bastidores.

Voltei à sala de oração após o culto, para junto com ele louvar ao Senhor. Ele não fez pergunta alguma, se o culto fora bom ou não, se as pessoas foram abençoadas ou não, nem pensei em dizer-lhe da bênção que eu recebera pessoalmente, ou de como suas orações haviam sido respondidas. Era como se já soubesse de tudo, e como era poderoso seu louvor ao Senhor! Foi tão fácil para eu louvar ao Senhor junto com ele, e falar com Deus da bênção que me enviara. Conversei muito pouco com ele naquela conferência.

Sabia muito pouco sobre ele, e estranhamente, não tive desejo de dirigir-lhe pergunta alguma. Mas um novo poder entrara na minha vida, humilhando-me e dando-me uma visão completamente nova da vida de um missionário, ou até mesmo da vida de um cristão. O ideal que me foi revelado naquela época nunca se perdeu, pelo contrário, com o passar dos anos, há um anseio cada vez mais profundo de atingi-lo.

Conversei com alguns missionários sobre Hyde, e descobri que antes muitos não o haviam compreendido, mas agora seus olhos estavam sendo abertos ao fato de que este não era um obreiro comum, mas alguém especialmente revestido com o espírito de oração, dado por Deus para a Índia para ensinar as pessoas a orar. Anos depois, perguntei-lhe se naquela época ele havia percebido que os missionários não estavam a favor da quantidade de tempo que passava em oração. Com aquele sorriso doce que eu jamais poderei esquecer, ele respondeu: `Oh sim, eu sabia, mas era porque não me compreendiam, só isto. Não era intenção deles ser antipáticos comigo.´

Não pude detectar nele um átomo de amargura. E realmente agora os missionários já falavam da suas longas vigílias de oração com aprovação. Provavelmente Hyde não passou uma noite dormindo durante aquela primeira conferência em que estivemos juntos, e o Senhor o honrou. Ele não apareceu diante do povo, mas em resposta a suas orações, muitos foram abençoados. Creio que uma nova era na história da Missão, e na história da província de Punjab, foi inaugurada naquela época.”

2ª. Parte
Alguns relatos sobre o ministério de John Hyde.
Adaptado do livreto “John Hyde, Apostolo de Oração”. Francis McGraw. Publicado por John Walker em 1975.


John Hyde foi criado num lar onde Jesus era um hóspede residente, e onde a atmosfera era de oração. O pai de John, Smith Hyde, era um homem de oração e sempre pedia que o Senhor mandasse ‘trabalhadores para sua seara’. Não é a toa que Deus envolveu sua família nesta obra.

Em 1892, John Hyde, após ser chamado por Deus, viajou de navio para a Índia e iniciou, com muitas dificuldades, o que mais tarde seria um dos mais impactantes ministérios da igreja cristã.

Com as crescentes dificuldades para a pregação do evangelho na Índia, os missionários foram convocados para uma reunião de avaliação e aprofundamento espiritual. Três homens, John Hyde, R. McCheyne Peterson e George Turner foram tomados por um tremendo peso de oração por este encontro. Durante 21 dias e 21 noites antecedentes esses homens se derramaram diante de Deus por um mover do Espírito.

No encontro John Hyde falou por apenas 20 minutos, mas suas palavras de quebrantamento causaram um enorme impacto, produzindo um devastador peso em diversas vidas. Vários obreiros foram tomados por uma impactante confrontação do Espírito e lançaram-se horas a fio de clamor.

“John não jejuava no sentido normal da palavra, implorava-se para que ele viesse comer, ele olhava e sorria: ‘Não estou com forme. Não!’ Havia uma fome consumindo a sua própria alma, e somente a oração poderia sacia-lo. Diante da fome espiritual, a natural desaparecia. Ele estava sendo consumido por uma agonia em favor de salvação de almas. Naqueles dias parecia que nunca perdia a visão dos homens perdidos no lugar onde morava. Ele gemia dizendo: ‘Pai dê-me estas almas, senão eu morro!’

Durante este tempo ele firmou uma aliança com Deus. Era pela conversão de uma alma por dia, não menos. Não meros interessados, para pessoas prontas para confessar a Cristo e ser batizada em seu nome. Ele voltou para seu distrito e não ficou desapontado. Eram noites de vigílias, jejum, dor, viagens e conflitos, mas coroadas pela vitória. No primeiro ano ele colheu 400 pessoas firmes em Cristo.

Ele ficou satisfeito com isto? Não. Ele dizia que não podia estar satisfeito se seu Senhor não estava. Mais um ano e foram mais 800 pessoas fiéis a Cristo. Então ele pediu ao Senhor quatro almas por dia. No dia em que isto não acontecia, de noite havia um peso imenso em seu coração, sendo-lhe impossível comer e dormir. Então em oração ele pedia ao Senhor para lhe mostrar que obstáculo na sua vida estava impedindo de mais pessoas converterem-se a Cristo”.

Quando chegou à Inglaterra ele foi visitar alguns amigos no País de Gales. Enquanto estava lá, soube que dois servos do Senhor estavam realizando uma campanha evangelística em Shrewsbury. Ele foi à cidade e alugou um quarto por uma semana, ficando enclausurado em oração e jejum pela cidade e pelos pregadores que estavam lá. Naqueles encontros o Senhor fez maravilhas.

“Ó Jerusalém, sobre os teus muros pus guardas, que todo o dia e toda a noite jamais se calarão; ó vós, os que fazeis lembrar ao SENHOR, não haja descanso em vós, Nem deis a ele descanso, até que confirme, e até que ponha a Jerusalém por louvor na terra”
. Isaías 62: 6-7

Há alguns que sabem que Deus os tem escolhido e ordenado como guardas. Há alguns que vivem tanto tempo em intimidade com Deus que ouvem a sua voz e recebem ordens diretamente Dele, que têm privilégio de cuidar, juntamente com o Senhor, dos assuntos de seu Reino. John Hyde era um desses.                                

                                                      
 

Um servo verdadeiramente fiel

Este precioso livro, escrito por Boaneges Ribeiro e publicado pela CPAD, relata a história de um homem que colocou Cristo como centro de sua vida e o ofício de procamá-lo como sua profissão. Sundar Singh foi um homem muito útil ao Senhor. Conheceu a Cristo ainda muito jovem e passou a ser tomado por um desejo profundo de se parecer com o seu Salvador. As montanhas da Índia, China, Nepal e Tibete são testemunhas das muitas viagens deste homem de Deus. Situações em que sempre esteve em perigo, seja ameaçado pelo frio, fome, animais selvagens, trilhas difícieis, seja sob ameaça de grandes forças do inferno e de extremistas hinduístas, budistas e mulçumanos.

Andando, literalmente, este fiel ministro da Palavra foi usado pelo Senhor Jesus para levar a Verdade (Jesus) a diversos povos estabelecidos em lugares de difícil acesso geográfico e de escravidão religiosa. Singh foi, sem dúvida, instrumento do Espírito Santo para proclamação do Reino de Deus como testemunho a esses povos.

Através da história deste homem podemos nos deliciar ao contemplar o alcance da graça do Senhor, que o levantou como ministro do Evangelho, cujo ministério foi forjado no meio do serviço e das batalhas que o acompanhavam. Ele não teve um minuto sequer para a teologia organizada e foi usado poderosamente por Deus por meio da ação do poder do Espírito Santo. Sentiu um peso enorme de responsabilidade pela obra de Deus na vida dos povos que ele se comprometeu a anunciar as boas novas, pelo que renunciou qualquer conforto material. É algo tão diferente de tanta doutrina materialista e comprometida com o bem estar do homem aqui na terra, tão anunciada por homens que abandonaram a mensagem da cruz e passaram a anunciar algo alternativo, mesclado com algumas verdades, mas inteiramente falso.

Nascido em 03 de setembro de 1889, Sundar Singh era o filho caçula de uma família sik, uma das religiões que tiveram origem na Índia, caracterizada por serem seus adeptos aversos às drogas, inclusive o tabaco, cultivando um cuidado peculiar com a higiene pessoal e um respeito devocional aos chamados “livros sagrados”. A aldeia na qual ele nasceu, Rampum, era um dos principais redutos siks, e seu pai, Sher Singh era governador da mesma.

Desde criança, Sundar Singh demonstrava um interesse incomum a sua tenra idade, pela introspecção e conhecimento dos livros sagrados sinkistas, com incentivo pleno de sua mãe, uma religiosa praticante que sonhava ver seu filho se tornar um “sadu” (espécie de sacerdote sik). Segundo o próprio Sundar, sua mãe teve uma participação marcante na sua trajetória até Cristo, pois ela alimentou seu desejo por uma vida piedosa.

Aos 14 anos, Sundar perdeu a mãe. Foi uma experiência muito dolorosa para ele. Mas, nessa fase ele se encontrava cada vez mais perto de conhecer a Cristo, embora ainda fosse lutar muito até decidir entregar sua vida a Ele. Isso seria uma vergonha para sua família sik. Por isso Sundar resistiu bastante até, finalmente, render-se ao Jesus a quem amou até o fim de sua vida.

Deus o estava cercando. Após a morte de sua mãe, Sundar entrou numa fase de profunda introspecção e luta interior, pois os rituais siks que cumpria diariamente e as horas de leitura nos livros sagrados não serviam para satisfazer sua profunda fome espiritual. Diante do quadro depressivo do filho, seu pai resolveu matriculá-lo em uma escola, a fim de ocupar sua mente, na esperança de vê-lo recuperar a alegria. E assim fez. Toda a escola era dirigida por uma missão norte-americana e lá Sundar teve contato com o livro mais precioso: A Bíblia.

De Inicio ele rejeitou tudo: a escola, os professores, os colegas e a Bíblia. Sendo que da Bíblia ele nutria um ódio intenso. Mas não podia deixar de ler, pois era o livro texto da escola. Quando começou a ler a Bíblia, passou a se interessar por ela. No início chamou a atenção o “tal” Jesus, de quem o livro falava. Sua atração pela Bíblia foi crescendo, levando-o a uma leitura diária, até que um amigo o advertiu com relação ao “feitiço” da Bíblia, pois, argumentou: - “muitos que começam a conhecer este livro acabam se tornando cristãos".

Tomado pelo pavor de ser “enfeitiçado” pelo livro, se desfez da Bíblia, saiu da escola, e por algum tempo, passou a perseguir os cristãos de sua cidade. Queimou sua Bíblia e outras mais. Mas, em tudo, sua agonia só fez crescer. Decidiu, no meio de seu desespero, testar um texto que tinha lido na Bíblia. Seu conflito interior era tão gigante que desafiou Deus a lhe revelar a verdade ou então cometeria suicídio. Após algumas horas esperando a resposta do Deus que até então ele não cria ser real, o próprio Senhor Jesus veio ao quarto de Sundar e a presença gloriosa que sentia e via trouxe a certeza que jamais o abandonaria. Decidiu ali entregar sua vida a Cristo e servi-lo fielmente. Mas, como acontece com todos aqueles que querem seguir fielmente a Cristo, enfrentou diversas e duras oposições. Sua família o rejeitou e tentou até matá-lo por envenenamento. O Senhor o livrou da morte por diversas ocasiões.

Após sua conversão de pronto atendeu o chamamento do Senhor: iria pregar o evangelho de Jesus por toda a região do Tibet e vizinhanças como um Sadhu, ou seja, alguém que não tem nada nesta terra a não ser sua fé. Foi assim que percorreu regiões de difícil acesso, descalço por caminhos montanhosos e de frio hostil. Comia o pão de cada dia à medida que o Senhor supria. Sua vida estava inteiramente nas mãos do Mestre. Passou a se relacionar tão profundamente com o Senhor que foi a cada dia tornando-se mais parecido com Jesus. 'Quando, numa sala, alguém o tratava com consideração que dispensava a seres excepcionais, ele se retirava aborrecido. Disse certa vez que não podia tolerar tais néscios'. Ao orar por uma criança à beira da morte, e o Senhor ter operado um milagre, ficou chocado ao ver as pessoas pensarem que ele era um milagreiro, levando-o a afirmar publicamente que não faria mais aquilo para não atrapalhar a mensagem do evangelho que pregava.

Embora tenha pregado o evangelho em diversos países, seu trabalho foi concentrado em regiões de difícil acesso nas montanhas da Índia, China, Nepal e Tibete. Sua missão era clara: levar a mensagem do evangelho a lugares que nunca tinham ouvido falar de Cristo. Os perigos faziam parte de sua dura rotina diária. Em 13/04/1929 foi visto pela última vez por um missionário europeu, quando decidiu percorrer a "Estrada do Peregrino" no Tibete. É desconhecido seu paradeiro, apenas sabemos que este homem certamente estará na lista daqueles que reinarão com Cristo.                                                                                                           


John Bunyan (1628-1688)

Autor do livro “O Peregrino”

“Queres conhecer o caminho da cruz? Olha lá para adiante. Vês um caminho estreito? É por ali que hás de ir. Por ele passaram os Patriarcas da fé, os profetas, Cristo e os apóstolos: É um caminho tão direito como uma linha reta. Há desvios por onde se perca um forasteiro? Sim, tem muitas encruzilhadas, e muitos atalhos bastante largos; mas a regra para distinguir o verdadeiro caminho é este: sempre reto e apertado.”
In “O Peregrino” , John Bunyan, 1688.


Já se passaram quatro séculos desde publicação do livro “O Peregrino”, livro mais vendido e lido do mundo, ficando atrás apenas da Bíblia. Seu autor, John Bunyan nasceu em Harrowden, Elstow, Inglaterra. Em 1649 casou-se com uma jovem mulher. John viveu em Elstow até 1655, quando sua esposa morreu, e então se mudou para Bedford e se casou de novo em 1659. Bedford hoje é um próspero centro industrial e ainda conserva alguns traços da época em que Bunyan caminhou por suas ruas na segunda metade do século XVII.

Um edificio, ainda incrivelmente bem conservado, onde alguns dizem que o escritor participou dos cultos, é sede do museu Bunyan, onde o visitante encontra um réplica como seria o lar dele, como também um pulpito, do qual ele ouviu palavras que influenciaram seus pensamentos. Também no museu encontra-se a porta de uma prisão onde Bunyan passou 12 anos preso pelo ‘crime’ de andar perto de Jesus e de pregar a verdadeira mensagem da cruz, contrariando o pensamento das lideranças anglicanas e católicas de seu tempo. Foi lá, na prisão, que Bunyan escreveu o livro “O Peregrino”.

Fiel a sua igreja, entretanto Bunyan não se contentava em receber apenas os ensinos ministrados pelos líderes religiosos, tornando-se um ávido estudioso da Bíblia. Com este estudo ele passou a questionar a conduta da igreja e a combater a hipocrisia que via nos círculos religiosos. Começou a ver o ativismo “cristão” como um pecado fatal, pois via que era fruto de esforço carnal, sem produzir a vida de Deus.

Embora o vitral da igreja atualmente homangeia o autor e seu livro, Bunyan com seu estudo da Bíblia passou a discordar fortemente da igreja. Muitas das cenas de seu livro não só expressam suas lutas íntimas, mas também a iniquidade que viu na igreja. Isto lhe custou muito sofrimento, fato resumido por uma placa em seu túmulo: “pagou muito caro por discordar dos líderes religiosos de seus dias”.

Um pequeno presídio existia próximo a uma ponte em Bedford. No primeiro ano que ficou preso lá, começou a escrever o livro “O Peregrino”. E a despeito de nunca ter ido a julgamento, passou 12 anos preso na mesma cadeia. Hoje os descendentes da cidade o homenageia, mas na época de Bunyan era diferente, pois ele se atreveu a pregar contra a hipocrisia.

Em 1658 Bunyan foi processado por pregar sem uma licença, rebelando-se contra a igreja oficial da Inglaterra. Não obstante, ele continuou a pregar e não sofreu prisão até novembro de 1660, quando ele foi levado à cadeia municipal de Silver Street, Bedford. Alí ele ficou detido por três meses, mas, por se recusar a conformar ou desistir de pregar uma mensagem que confrontava os líderes religiosos de seu tempo, sua prisão foi estendida por 12 anos até janeiro de 1672, quando Carlos II emitiu a Declaração de Indulgência Religiosa.

Naquele mês ele se tornou pastor da igreja batista de Bedford. Em março de 1675, ele foi novamente aprisionado por pregar (porque Carlos II removeu a Declaração de Indulgência Religiosa), desta vez no cárcere de Bedford localizado na ponte de pedra sobre o rio Ouse. (O mandado original, descoberto em 1887, é publicado em fac-símile por Rush and Warwick, London). Após seis meses ele foi liberto e devido ao respeito que as pessoas tinham por seu ministério, ele não foi mais molestado.

A luta de Bunyan era fruto da decisão Henrique VIII (1509-1547), que criou a Igreja Anglicana, uma igreja nacional inglesa de orientação nitidamente católica. Em 1539, impôs os Seis Artigos, com severas punições para os transgressores (“o açoite sangrento de seis cordas”). Duas reações dos protestantes: conformação – por exemplo, o arcebispo Thomas Cranmer a princípio de opôs, mas depois se submeteu e separou-se da esposa; protesto – Miles Coverdale, John Hooper e outros, que tiveram de fugir do país e foram para a Suíça. Maria I (1553-1558) tentou restaurar o catolicismo na Inglaterra, perseguindo e assassinando os líderes protestantes, notadamente os puritanos. Estes pregavam a purificação da igreja, defendendo o fim dos elementos arquitetônicos, litúrgicos e cerimoniais, que consideravam afrontação para com a simplicidade bíblica.

Muitos pastores puritanos foram cruelmente mortos sob influência da igreja anglicana (uma espécie de igreja católica sem vínculo com o Vaticano) . De 1534 até 1688 a igreja anglicana comandou o ato de intolerância contra os cristãos. Foi nesta época que viveu John Bunyan. Neste período a perseguição era geral. Os cristãos não tinham o direito legal de se reunir e muito menos de pregar o evangelho, e quando descobertos, os locais eram fechadas e destruídos. Houve uma imigração maciça para a América do Norte.

John Bunyan sofreu muito na prisão, pois além de sua esposa possuir uma enfermidade, ele tinha uma pequena filha cega, o que lhe custava muito tempo de aflições em oração. Muitas vezes lhe foi oferecido a liberdade em troca de um compromisso de não pregar mais o evangelho de Jesus, coisa que se recusava a fazer, ao contrário, e enfurecendo seu algozes, dizia: “Ao sair daqui, voltarei a pregar o evangelho de Jesus imediatamente.”                                 


     

Watchman Nee (1903-1972)

“‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida’ diz o Senhor Jesus. Somos informados de forma clara que o Caminho que Deus provê é Cristo, a Verdade que Deus revela é Cristo e que a Vida que Deus concede, é , do mesmo modo, Cristo. Jesus é o nosso Caminho, nossa Verdade e nossa Vida. É através de Jesus que vamos ao Pai. No coração de Deus, aquilo que está relacionado a Ele é Jesus. Ele não nos deu muita coisa fora de Jesus.
Em assuntos espirituais, freqüentemente lidamos com questões que se tornam vazias e sem qualquer utilidade espiritual para nós. Precisamos então pedir a Deus que abra nossos olhos de modo que possamos conhecer Jesus. A essência do cristianismo reside no fato de sua fonte, profundidade e riqueza estarem vincunladas ao conhecimento do Filho de Deus. Não importa o quanto sabemos de doutrinas, métodos ou poder; o que realmente importa é conhecer o Filho de Deus.
Watchman Nee, 1947


Sem dúvida, todos os cristãos que buscam crescimento espiritual, de meados do séc. XX a este presente momento, já foram de algum modo, direta ou indiretamente, abençoados pelo ministério confiado por Jesus a este homem, cuja vida foi marcada por terríveis sofrimentos, exatamente como diz a Bíblia: “E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (II Tim 3:12).

Watchman Nee teve uma vida marcada pela pobreza, doença, perseguições, martírios e uma prisão que durou 21 anos, da qual não saiu vivo. Foi condenado em 1952 e ficou preso por 21 anos e após foi morto, provavelmente por fuzilamento, por ordem do governo comunista chinês, tudo isto por ter sido acusado do “crime” de pregar o evangelho de Jesus. Na prisão, seis meses antes de sua morte, recebeu a notícia do falecimento de sua esposa Charity Chang, fato que lhe causou muito sofrimento, pois muito a amava. Mas, talvez o pior de todos os sofrimentos que sofreu tenha sido o desprezo, oposição e calúnias provindas dos próprios “cristãos”. Como todo profeta, foi rejeitado e mal interpretado por sua geração. Todavia, tudo isso ele vivenciava sem murmuração ou cobrança de justiça própria. Encarava tudo como oportunidade de praticar a cruz. Este homem era um daqueles “do qual o mundo não era digno” (Heb. 11:38). Pouco tempo antes de morrer, conseguiu fazer chegar aos irmãos um bilhete na qual reafirmava sua fé e sua fidelidade a Cristo. Por muitas vezes teve a promessa da liberdade, caso se comprometesse a não pregar mais o evangelho, coisa que se recusou a fazer.

É espantoso como Deus perpetua os ministérios conferidos por ele. Como a perseguição e a crueldade não conseguiram aprisionar o impacto da vida de um homem lúcido, que via com clareza as implicações da centralidade de todas as coisas na pessoa de Jesus. Certamente Nee morreu na prisão chinesa convicto que sua obra, como ministro do Senhor, tinha acabado ali. Talvez não imaginava que suas palavras continuariam a atravessar os anos e promovendo tremenda edificação, não só para a igreja na China, mas em todos os continentes e em dezenas de idiomas. Satanás tentou minar a obra que o Senhor fez através dele, mas fracassou, como sempre, ao tentar impedir o curso da Palavra de Deus. Seus arrogantes algozes já foram para a sepultura, para o esquecimento e para o tribunal de Cristo, ao passo que Nee seguiu para a seletíssima fileira daqueles que reinarão com Cristo. Como disse Tozer: “A ressurreição e o juízo demonstrarão perante os mundos todos, quem ganhou e quem perdeu. Podemos esperar”.

Nee Shu-Tsu: Este é o nome que recebeu ao nascer, cuja versão inglesa é ‘Henry Nee’. Nasceu em Fochow (China), em 04 de novembro de 1903. Teve o privilégio de ser a segunda geração de cristãos de sua família. Na noite em que sua mãe constatou que estava grávida, fez uma aliança com Deus, consagrando o fruto de seu ventre, caso fosse menino, para pertencer ao Senhor em todos os dias de sua vida. Assim, ele veio ao mundo debaixo dessa aliança. Quando iniciou seu ministério, aos 20 anos de idade, sua mãe, em função da lembrança concernente à aliança feita com Deus, pediu que em seu ministério ele fosse conhecido como um vigia, alguém que está bem acordado enquanto outros dormem, um atalaia. Assim, passou a ser um Vigia-Nee, ou Nee To-Sheng na sua língua natal, sendo Watchman Nee a versão inglesa do seu novo nome.

Podemos dizer que a oração de sua mãe teve um caráter profético, pois, o ministério de Watchman Nee foi marcado pela lucidez espiritual e visão sobre o estado real da igreja e seu afastamento da verdade da Palavra de Deus. Sem dúvida, ele foi um dos grandes profetas que Deus levantou nos últimos tempos que antecedem a volta de Cristo. O estudo dos livros que reproduzem suas ministrações é uma experiência marcante para a vida do cristão que está em busca de alimento sólido.

Não só sua mãe teve um importante papel na sua trajetória. Nee foi bastante abençoado por algumas pessoas:

Dora Yu

Irmã evangelista na China. Tinha verdadeiro ardor pela pregação do evangelho. Saia de rua em rua, casa em casa, pregando o evangelho de Jesus. Em fevereiro de1920 foi a Fuchow, e ao pregar para um grupo de pessoas, teve como resultado a conversão do jovem Watchman Nee. A mensagem de Dora Yu era tão inspirada pelo Espírito Santo, que ao final de cada reunião o piso do salão ficava molhado com as lágrimas dos ouvintes.

Margareth Barber

Esta irmã, inglesa, servia ao senhor na China e era alguém cheia da vida de Cristo. Foi poderosamente usada pelo Senhor na vida de Watchman Nee no tocante a revelação da cruz de Cristo e ao fato de que formos crucificado juntamente com Ele. Estes primeiros anos, sob a influência da irmã Margareth Barber, foram decisivos para a visão que Watchman Nee recebeu mais tarde sobre a vida do ego (alma).

T. Austin Sparks

Este precioso irmão e profeta de Deus, tornou-se para Watchman Nee um amigo e conselheiro. Encontraram-se pela primeira vez em 1937, foram separados por causa da segunda guerra mundial, mas, tão logo ela acabou voltaram-se a se relacionar. Entre 1946 e 1950 viajaram juntos para muitas localidades, em abençoados encontros. O Senhor fez uma tremenda obra através da união desses dois profetas.

Watchman Nee foi ainda muito influenciado pela vida de Madame Guyon (que viveu no séc. XVII), D.M. Panton, Elizabeth Fischbacker, Jessie Penn-Lewis e pelos escritos de G H Pember.

Um fato que marcou a vida de Watchman Nee foi a grave enfermidade de que padeceu de 1924 a 1927. Estava tuberculoso e extremamente debilitado. Nesse período de muito sofrimento, o qual ele pensava ser o fim de sua vida e ministério, escreveu o único livro que redigiu do próprio punho: “O homem espiritual”. Todas as outras dezenas de publicações que levam o seu nome advieram do registro que as pessoas faziam de suas ministrações. Para a glória do Senhor foi curado de forma sobrenatural, tendo seguido com seu precioso ministério, embora carregando uma seqüela da doença: um grave problema cardíaco. Mas isto não impedia de realizar a obra do Senhor, mesmo que muitas vezes tivesse que descansar por causa das fortes dores que sentia.

Após sua cura, mundou-se para Xangai e lá prosseguiu com seu ministério. Dois periódicos, Revistas Testemunho Atual e O Cristão, divulgavam suas mensagens. O Senhor abençoou sua vida lá, e no início de 1950 já havia mais de 500 localidades com a presença da igreja do Senhor, que se dividiam em grupos caseiros chamados de ‘little flocks’, ou seja, ‘pequenos rebanhos’.

Em 1941, com a ocupação de Xangai pelos japoneses, foram impostas restrições sobre os membros da igreja e as finanças foram reduzidas, antecipando o que ainda estava por vir. Nee e seu irmão estabeleceram uma empresa farmacêutica para ajudar a complementar as necessidades financeiras da igreja.

Em 1949 o Partido Comunista Chinês derrubou o governo nacionalista e proclamou a República Popular da China. No começo, a igreja ficou esperançosa com o novo governo, mas após dois anos a situação começou a mudar quando os comunistas revelaram os seus planos de controlar a igreja.

Através de seu Movimento da Reforma da Tripla Autonomia, o governo visava tornar a igreja auto-governada, auto-sustentada e auto-propagada. Ela foi colocada sob a autoridade da Agência de Assuntos Religiosos, a qual pressionou a igreja a persuadir os missionários a deixarem a China. O governo proibia: ensino bíblico para as crianças, pregação do evangelho nas ruas, reunião nas casas, distribuição de Bíblias, mais de uma reunião por semana e reuniões sem a participação de um espião do governo. O livro do Apocalipse foi banido pelo governo, bem como diversos textos das escrituras. Quando o pastor, credenciado pelo governo, adoecia ou se afastava por algum motivo, o governo mandava um substituto temporário, que por vezes era até um ateu.

Durante esse tempo, as igrejas domésticas resistiram bravamente a se unir à Igreja Cristã Nacional, um fantoche sob o controle do governo comunista, criada para cumprir suas ordens e tentar minar o evangelho de Cristo. Milhares de irmãos foram mortos ou feitos prisioneiros. Freqüentemente infiltrada por informantes comunistas, as igrejas domésticas eram forçadas a realizar reuniões para encorajar a auto-crítica e a reforma. Os pastores foram acusados de traidores e Nee logo foi acusado de liderar um grande sistema secreto que distribuía veneno anti-revolucionário.

Em 1952 Nee foi preso e submetido a quatro anos de “reeducação”. Antes de ser preso, ele ajudou a organizar várias igrejas subterrâneas. Em 1956 ele e outros da membros da igreja foram condenados a quinze anos na Primeira Prisão Municipal de Xangai.

Ele deveria ter sido posto em liberdade em 1967, durante a Revolução Cultural, mas teve a sentença ampliada, e o governo deu início a outro ataque furioso contra a igreja. Os cultos foram interrompidos e todos os edifícios religiosos deveriam ser “secularizados”. Os comunistas prometeram libertar Nee se ele concordasse em não voltar a pregar. Nee não aceitou e foi transferido para outra prisão onde acabou sendo morto em 1972.

Um relato da sobrinha do irmão Nee, a qual acompanhava a irmã mais velha da Sra.Nee :

‘Em junho de 1972, nós recebemos uma nota da fazenda de trabalhos forçados avisando que o meu tio-avô havia falecido. A mais velha das minhas tias-avós e eu corremos para a fazenda de trabalhos forçados. Porém, quando nós chegamos lá, soubemos que ele já havia sido cremado. Nós pudemos apenas ver as suas cinzas... Antes de ser morto, ele deixou um pedaço de papel debaixo do seu travesseiro com várias linhas de palavras grandes escritas com uma mão trêmula. Ele queria testificar a verdade que ele havia experimentado por toda a sua vida, até mesmo na hora da sua morte. Esta verdade é — “Cristo é o Filho de Deus que morreu pela redenção dos pecadores e ressuscitou depois de três dias. Esta é a maior verdade do universo. Eu morro por causa da minha fé em Cristo - Watchman Nee". Quando o oficial da fazenda nos mostrou este papel, eu orei ao Senhor que me deixasse decorá-lo rapidamente...’.
Quando Satanás ceifou a vida terrena de Jesus, pensou que estava triunfando, sem saber que a semente deve morrer para que brote a vida. Assim acontece com os preciosos filhos de Deus, ao quais Deus conferiu um ministério, ele o fará prosperar ao longo dos anos e séculos, mesmo que, aparentemente, as trevas pensem que triunfaram.                            










-